Lamento conta a história de Élder (Marco Ricca), dono de um decadente hotel à beira da falência que vê sua vida desmoronar quando um casal disfuncional se hospeda em um de seus quartos e começa a criar todo tipo de problemas. Com a crise em seu casamento com Rosa (Verônica Rodrigues) alcançando níveis catastróficos, um antigo fantasma do passado volta a assombrá-lo: o vício.
Com uma direção de fotografia realista e minimalista, bem como uma direção sóbria e de ritmo calmo, mas com vários simbolismos, vemos no hotel onde se passa a maior parte da trama, uma representação do próprio protagonista, uma vez que, assim como o hotel, ele possui orgulho de seu passado, o que contrasta com a decadência que vive no presente.
Graças a união do roteiro e a direção, o clima gera uma tensão crescente, favorecendo a narrativa e a crescente destruição da vida de Élder e do pouco orgulho e felicidade que ele ainda possui.
Em relação a atuação, os destaques ficam com o casal de protagonistas, sendo que Verônica Rodrigues, a princípio, demonstra ser apenas mais um clichê de esposa distante que vive jogando os problemas na cara do marido, mas que conforme a história vai avançando, demonstra que na verdade carrega pesadas cicatrizes do passado e é difícil olhar para o marido em seu estado atual de fracasso e insistência na causa perdida do hotel. No fundo ainda o ama e está disposta a resgatá-lo dessa situação emergente na qual ele está se aprofundando cada vez mais.
Já Marco Ricca entrega com competência um homem que apesar do fracasso, luta com todas as forças para recuperar o legado de seu pai, de quem herdou o hotel, e reatar a felicidade com o amor de sua vida, mas conforme esses sonhos vão se tornando cada vez mais distantes, se entrega aos vícios para fugir, nem que por breves momentos, do inferno que se transformou sua vida.
O filme é um drama tenso, com desenvolvimento amargo e um desfecho que faz jus ao que foi construído ao longo de toda a narrativa.
