Spira (Michel David Pires Spencer), jovem que, com 18 anos, retorna à Reboleira, subúrbio de Lisboa, após passar oito anos em uma instituição correcional. O Fim do Mundo, segundo longa-metragem de Basil de Cunha, possui uma abordagem realista, com câmera na mão, trilha sonora pouco dominante e planos próximos aos personagens.
Basil apresenta a Reboleira como um ambiente violento, como se todos os moradores só soubessem ser hostis uns com os outros. O realizador nos coloca, literalmente, no fim do mundo, onde não há nada de bom. Os moradores agridem uns aos outros de diversas formas, tanto fisicamente, como quando dois homens brigam por um vaso sanitário, quanto verbalmente, quando a madrasta (Luisa Martins dos Santos) de Spira, difama Iara, sua intenção amorosa.
E é justamente nesse quesito que o filme falha. Não há, como em No Coração do Mundo (2019), uma personagem que tenta ganhar a vida para se emancipar. No filme, também não há nenhuma tentativa dos moradores em melhorar o local onde vivem. Basil, ao colocar a Reboleira como o fim do mundo, nos mostra que o que resta a Spira e aos moradores, é entrar em um ciclo de violência, mas não uma violência revolucionária e sim reacionária, em que o favelado continua matando o favelado.
Um dos temas do filme é a desocupação forçada de alguns moradores feitas pela polícia de Lisboa. Porém, não é algo que move o filme, é apenas uma injustiça que esses indivíduos sofrem, apenas uma contextualização sobre o local. Basil até nos indica que a madrasta de Spira havia provocado a desocupação da casa de Iara. Spira até resolve explodir a máquina com o intuito de evitar a demolição de uma residência, mas é algo em vão, já que não provoca nada nos moradores de Reboleira.
Basil reforça essa imobilidade dos moradores pela fotografia, em que os planos próximos dos personagens deixam pouco espaço para respiro. O realizador também não mostra os moradores de Reboleira se divertindo plenamente, sempre há violência entre eles, seja em discussões entre mulheres em uma festa, seja num jogo de futebol, onde um homem agride o outro por causa de uma entrada mais forte. Até há uma tentativa de mostrar Spira e Iara (Lara Cristina Cardoso) se divertindo, com uma metáfora de um cavalo branco, porém é apenas uma mínima exceção da comunidade de Reboleira.
O Fim do Mundo é um filme que funcionaria se tivesse sido lançado nos anos 2000, junto com Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2006), entretanto hoje em dia não. A imobilidade dos moradores de Reboleira em relação as suas injustiças sócio-econômicas e a violência extrema entre eles próprios, propostos por Basil da Cunha, reforçam a estigmatização das regiões marginalizadas das grandes metrópoles.