Os vilões são figuras muito presentes e importantes no imaginário humano. De forma sorrateira, eles invadem nosso subconsciente e permanecem ali para sempre, nos fazendo acordar de supetão, suados e tremendo depois de um pesadelo terrível. Os piores seres do mal das estórias nos causam terror quando somos crianças (para alguns é o bicho papão, para outros, a bruxa, o vampiro ou mesmo criaturas mais reais, como o tubarão, a aranha e a serpente) e nos acompanham até a fase adulta, quando aprendemos a controlar nossos medos, mas eles nunca nos deixam totalmente.
Para esta autora que ora vos escreve, o pior vilão, aquele que habita o local mais escuro da minha mente e protagonizou meus piores pesadelos na infância, é o Lobo Mau. Nenhum outro ser jamais me tirou o sono como ele, nem mesmo fantasmas ou zumbis. E eis que o Lobo surge como o protagonista da mais nova animação da Universal Pictures, Os Caras Malvados, ladeado por seus asseclas Cobra, Tubarão, Piranha e Tarântula (conhecida como Redinha).
Na estória, eles são uma gangue de criminosos que, para evitar serem presos, prometem se regenerar e se tornarem ‘Os Caras Legais’, mas não têm a mínima intenção de cumprir com sua palavra. Seu lema é “ou é mal, ou tchau, tchau!”
É no mínimo interessante, para mim, que o Lobo seja justamente o líder da gangue e, portanto, o mais perigoso. Antes, quando eu era criança, meu medo vinha da figura assustadora do animal, com seus enormes olhos amarelos para me ver melhor, suas orelhas pontudas para me ouvir melhor, seu nariz enorme para me cheirar melhor e, finalmente, sua boca enorme, que poderia me engolir inteira de uma só vez. Hoje, a analogia que a estória da Chapeuzinho Vermelho faz com a realidade é clara e, assistindo à animação em análise, é possível enxergar todos os atributos que fazem de um homem um verdadeiro Lobo Mau.
Sendo assim, Lobo é inteligente (e por isso é o líder), o mais bem vestido (elegante em seu terno branco), o mais calmo (e por isso menos impulsivo em seus instintos, ele sabe esperar) e o mais charmoso – possui um modo Clooney, numa ótima sacada do filme! Ele sabe até dançar. Ora, é praticamente o mesmo Lobo que convence Chapeuzinho Vermelho de que é seguro entrar na floresta, mas agora o vemos em formato de comédia, com mais amigos e, claro, uma proposta diferente.
Naquele clássico, a ideia é alertar para o mal do mundo, neste é passar o valor de como ser bom vale à pena. E Os Caras Malvados fazem isso com muita ação e desenvoltura, com os clichês certos dentro do contexto da atualidade, mostrando como devemos olhar além dos estereótipos e estarmos sempre atentos às imagens que nos vendem, um grande perigos dos dias de hoje.
Baseada na série de livros infantis best-sellers do New York Times, ainda não se sabe se essa obra vai virar uma franquia da Universal, mas a julgar por este filme, eu diria que tudo está bem encaminhado para que isso aconteça. Os Caras Malvados têm tudo para ser um sucesso – é uma animação divertida, esteticamente muito bonita e bastante dinâmica na narrativa. Detalhe que o elenco estrelar de dubladores nacionais que inclui Rômulo Estrela, Agatha Moreira, Sergio Guizé, Babu Santana, Luis Lobianco e Nyvi Estephan não faz feio em seu trabalho!
E no final, cabe até uma moral, como em toda boa fábula: aquela de que a escolha entre ser mau ou tchau, tchau é muito simplista. Existem caminhos alternativos que podem até não serem fáceis, mas que valem muito mais à pena!