Crítica de filme

Cruella

Publicado 3 anos atrás

Quando o assunto é fazer mais uma releitura de um de seus personagens clássicos, a Disney tem decepcionado muito  para dizer o mínimo -, então é normal o espectador não se empolgar quando um novo live action é anunciado pela casa do Mickey. Na verdade, o fã vai assistir com os dois pés atrás esperando se decepcionar. Com Cruella não deve ser diferente para muitas pessoas. Quando sobem os  créditos, um sentimento de confusão se instaura e uma dúvida aparece: o que tornou o projeto bem sucedido? Seria a fila de adaptações mal produzidas? Ou será que a Disney realmente fez bonito e entregou um filme digno de ser visto?

Em primeiro lugar, vale destacar que cada pessoa terá uma experiência diferente – algumas vão criticar a obra por estarem anestesiadas pela qualidade discutível dos outros filmes do monopólio do entretenimento, outras estarão abertas à experiência. Independente do lado que você escolher uma coisa é certa: seria bem fácil o filme cair em um festival de clichês e frases feitas. Na verdade, os trailers deram a entender isso, contudo, o que vai te surpreender é que cada fala, cada atitude de determinados personagens tem uma estrutura que não é mostrada nas prévias, então alguns diálogos realmente cabem naquele cenário! 

Cruella Estella
Cruella / 2021 © Divulgação Disney

O grande triunfo de Cruella, portanto, é o que tem faltado na maioria das adaptações do estúdio: a história tem alma, tem personalidade! Você pode encontrar furos de roteiro e uma conveniência aqui e ali? Pode achar alguns efeitos capengas? Pode achar a narração ultrapassada? Pode! Mas nada disso ofusca o coração pulsante do enredo. A mão do diretor Craig Gillespie é essencial para não desviar sua atenção da trajetória de Estella/Cruella. O filme ultrapassa o tempo de 2 horas, mas elas são muito bem aproveitadas, pois saboreiam cada cantinho da essência dessa designer caótica. 

Cruella / 2021 © Divulgação Disney
Cruella / 2021 © Divulgação Disney

Assim como Malévola, aqui, os criadores têm maior liberdade para criar e esculpir as origens de uma personagem que só é vista sob à luz dos mocinhos. Como vilões não têm referência, quando eles estrelam suas próprias histórias há uma dimensão maior dos motivos que os tornaram do jeito que são. Para suas origens não existe uma animação pronta para copiar. Só que ao contrário de Malévola, Cruella não é boa, mas também não é má! Ela é cinza assim como a combinação de cores que ela ostenta na maior parte do filme (Preto & Branco). Outra coisa que ganha destaque é o timing cômico e planos mirabolantes do enredo – às vezes você sente que Cruella é uma mistura de 11 Homens e um Segredo com O Diabo Veste Prada, tamanhas são suas “mirabolâncias” para desenvolver a jornada da protagonista.

Sendo assim, como foi dito acima, era muito fácil o filme ter caído no cafona com uma “quase” forçação de barra da protagonista ser má. ‘Quem é ela na fila do pão perto de Glenn Close?’ Foi uma das coisas que a internet rapidamente julgou. Mas Emma Stone entrega tudo, e quando eu digo tudo, é cada camada, cada profundidade emocional que a protagonista tem a oferecer. Então antes de subestimar o talento da moça, se pergunte porque a própria Glenn deu sua benção e é uma das produtoras do projeto. Além de Stone, o restante do elenco complementa o corpo de uma história com bastante carisma e sintonia. Emma Thompson destila uma impiedosa Baronesa fashionista e psicopata, lugar em que não estamos acostumados a vê-la, mas que ela faz com perfeição e sem cair no ostracismo. É uma personagem que não chega nem perto da perversidade de Cruella eu seus melhores dias  –  ou devo dizer, piores!?

Cruella Baronesa
Cruella / 2021 © Divulgação Disney

E além disso, até mesmo Gaspar (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser) tiveram a chance de mostrar do que são feitos. A trama faz um favor às crianças da década de 80 e 90 ao eliminarem parte da antipatia de seus atos como meros capangas. Podem falar o que for de Cruella, mas ninguém pode acusá-lo de ter personagens ruins – até mesmo os figurantes geram empatia e curiosidade.

Cruella estava certa, ela veio pra se posicionar e fazer uma demonstração do quão grandiosa e genial uma vilã pode ser. A aura punk que serve de inspiração para os figurinos  são a cereja do bolo para uma obra que é um grito de revolta de sua protagonista. Sentimento que nunca deixou seu espírito!

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Cruella Poster
País: EUA
Idioma: Inglês

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