Crítica de filme

De Volta ao Baile

Publicado 3 anos atrás
Nota do(a) autor(a): 2

Stephanie (Angourie Rice) é uma adolescente super popular que tem a vida perfeita, mas depois de sofrer um acidente enquanto praticava uma manobra de líder de torcida na escola, fica em coma por vinte anos. Quando ela acorda com 37 anos na pele de Rebel Wilson em um futuro em que todos os colegas de escola já se formaram, ela percebe que perdeu os melhores anos de sua vida, mas isso não vai impedi-la de retomar o status de popularidade e ser coroada rainha do baile de formatura. No entanto, conquistar seus objetivos não será uma tarefa fácil. Ou será que vai?

É de conhecimento geral que buscar um meio de racionalizar ou encontrar algum tipo de profundidade em uma comédia romântica é bem inútil. Esse gênero é o que é, apresentando filminhos divertidos pra você passar um tempo confortável no sofá. Em raros casos, porém, algumas obras conseguem quebrar o padrão e mostrar algo realmente significativo. Era o que De Volta ao Baile deveria ter feito, mas a Netflix continua insistindo em vender projetos reluzentes e cheios de marketing pomposo para, no final, não entregar um projeto com grandes ambições.

Pegando o trem da amargura, devo confessar que a narrativa simplesmente pula eventos importantes para chegar na parte mais conveniente da história e fazer a protagonista caminhar, largando pelo caminho qualquer potencial para trabalhar com assuntos realmente sérios. Imagina perder vinte anos? Você iria simplesmente acordar e tentar retomar de onde parou fazendo uma colagem anos 90 com seus objetivos fúteis de adolescente? Não! Você procura um terapeuta o mais rápido possível e tenta processar o que aconteceu!

Sendo assim, aqui a conveniência do roteiro transborda e posso dar exemplos do porquê. Em menos de uma semana, Stephanie ganha 49 mil seguidores e recebe, de uma vez, milhares de mimos de marcas para exibir em sua rede social, sendo que até uma pessoa que não entende muito sobre o mundo de influenciadores digitais sabe o quão difícil é chamar a atenção de grandes marcas. São semanas de estratégia até que uma empresa busque o vínculo com um influencer. Incoerência total.

Também é inacreditável que a questão de “não se apegar ao passado” colou com uma menina que ficou vinte anos em coma. Pra começar, ela nem tinha um futuro para que alguém desse esse “conselho de vida essencial” para ela! Não se pode pedir a uma garota para crescer quando ela mesma não teve essa oportunidade.

É por isso que seria maravilhoso se De Volta ao Baile abordasse esses dilemas com uma abordagem diferente, focando na autodescoberta e no que essa adolescente poderia ser agora que é uma adulta que pulou etapas essenciais de sua vida. Participar de um baile de ensino médio não poderia ser encarado como um desejo da protagonista, mas implementado como um evento traumático, e não o centro da existência de Stephanie.

Dessa forma, esse enredo não pedia uma comédia romântica, mas um mega drama sobre amadurecimento, com pitadas de humor ácido! Um cenário menor do que o caso ‘Steve Rogers’ é inaceitável. 

Mas não foi só o enredo que foi mal aproveitado. É inconcebível um elenco com esse calibre ser totalmente desperdiçado (quem viu This is Us ou Dois Caras Legais, vai entender o que eu estou falando). 

Sendo assim, ninguém nesse filme agiu com o mínimo de bom senso. No momento em que Stephanie acorda, parece que todos os adultos do filme entram em uma histeria coletiva adolescente, esquecendo de tudo que viveram enquanto Stephanie dormia. Não dá pra entender como o pai de Stephanie age de forma tão casual quando a filha acorda, porque se você está disposto a arcar com uma fortuna em equipamentos médicos para manter sua progênie viva, não é normal que filme trate esse evento de forma tão rasa, sendo que era pra esse homem viver dopado de tarja preta 24h por dia depois que perdeu a esposa e a filha por vinte anos.

E quando o filme finalmente apresenta um conflito realmente relevante, é abandonado para dar mais tempo de tela para Rebel Wilson fazer pataquadas com  suas coreografias imaginárias. Eu torço para que ela escolha projetos mais sérios no futuro, mas até agora Wilson só entregou a mesma personagem – uma mulher de aparência fora do padrão que esbanja confiança em momentos inadequados, tal qual uma síndrome de Adam Sandler.

De qualquer forma, De Volta ao Baile é só mais um conteúdo para inflar o catálogo do streaming vermelhinho. Em menos de 2 meses, ninguém vai lembrar que está lá. 

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De Volta ao Baile Pôster
País: EUA
Direção: Alex Hardcastle
Roteiro: Andrew Knauer, Arthur Pielli, Brandon, Scott Jones
Idioma: Inglês

Respostas de 2

  1. É um FILME! Por isso as coisas acontecem tão rápido. Você queria que a personagem passasse 1 ano inteiro aprendendo a virar influencer, pra só assim alcançar 49mil de seguidores? Realmente, pegou o caminho da amargura.
    Não tem como querer trazer um filme pra realidade e cobrar isso dele, por isso se chama FILME.
    E com isso não quero dizer que o filme é algo revolucionário, digno de Oscar, longe disso, até porque esse não é o objetivo de Senior Year.

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