Crítica de filme

Crítica | Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Publicado 3 anos atrás
Nota do(a) autor(a): 4.0

O Universo Cinematográfico da Marvel (comumente conhecido pela sigla do inglês, MCU) não existiria sem a contribuição de Sam Raimi para o gênero. Responsável pelas três primeiras aparições do Homem-Aranha nos cinemas, o sucesso da franquia – junto com os X-Men da Fox – definitivamente pavimentou o caminho para que Hollywood se desse conta da fortuna que poderia fazer em cima dos super-heróis da Marvel. Agora, 20 anos depois de trazer o amigão da vizinhança para a tela grande, criador e criatura (de certa maneira) finalmente se encontram e temos Raimi no comando da mais nova aventura do Mago Supremo da Marvel, em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.

Doutor Estranho
Benedict Cumberbatch e Xochitl Gomez como America Chavez em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura ©Marvel Studios 2022. Todos os direitos reservados.

Neste longa, após abrir as portas do multiverso em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) precisa ajudar a jovem America Chavez (Xochitl Gomez), que está sendo perseguida por uma entidade disposta a tudo para obter seu poder de viajar entre universos. Para cumprir essa missão, Strange recrutará o atual Mago Supremo da Terra, Wong (Benedict Wong) e Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), a Feiticeira Escarlate. E é melhor parar por aí. Embora muito tenha sido revelado nas campanhas de marketing, o longa reserva várias surpresas, principalmente em relação a sua história. Contar mais do que isso certamente afetaria a experiência na sala de cinema. E Doutor Estranho no Multiverso da Loucura com certeza é uma ótima experiência apesar dos problemas de praxe.

Leia a crítica de ‘Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa’ aqui!
 Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Xochitl Gomez como America Chavez, Benedict Wong como Wong e Benedict Cumberbatch como Dr. Stephen Strange em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura ©Marvel Studios 2022. Todos os direitos reservados.

Frenético do início ao fim, Raimi nos leva aos mais variados pontos do multiverso sem tempo para respirar. Tudo isso com a marca inconfundível do diretor de Evil Dead, Darkman – A Vingança Sem Rosto, entre outros. Chega até a causar espanto o grau de violência visto em uma produção com o selo Marvel. Sangue, mortes gráficas e outras cenas perturbadoras podem ser vistas neste que pode ser considerado o mais próximo de um filme de terror dentro do MCU. Não que o filme se torne pesado por causa disso. Raimi é um mestre na arte de equilibrar o grotesco e o humor em suas obras e o faz com um pé nas costas nesse filme.

Doutor Estranho
Benedict Cumberbatch como Dr. Stephen Strange, Xochitl Gomez como America Chavez e Rachel McAdams como Dra. Christine Palmer em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura ©Marvel Studios 2022. Todos os direitos reservados.

Todavia, se esteticamente Raimi aparenta ter controle total, é a história que será seu calcanhar de Aquiles. Preso à fórmula Marvel, continuam os mesmos problemas encontrados na longa franquia de super-heróis. Tal qual acompanhar os quadrinhos, este Doutor Estranho não tem como se sustentar unicamente pela sua história, uma vez que depende de informações vistas nos filmes anteriores e até mesmo nas séries exibidas no Disney+. A prova máxima disso é constatar que o arco de personagem mais bem desenvolvido seja o da Feiticeira Escarlate, e não do personagem principal. Começar a acompanhar a história por esse filme é o mesmo que comprar a edição 73 do quadrinho na banca. A pessoa entenderá o essencial, mas a ausência de uma bagagem robusta sobre os personagens certamente fará falta para que a experiência seja completa.

Elizabeth Olsen
Elizabeth Olsen como Wanda Maximoff em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura ©Marvel Studios 2022. Todos os direitos reservados.

Soma-se a isso o fato de que o longa não só precisa referenciar esse material como também precisa amarrar as pontas soltas de outras mídias e apontar novos caminhos dentro da saga. Isso acaba inflando a história e consequentemente o número de tramas dentro do filme. Existe também um problema inerente a qualquer produção da Marvel que virá após o último Homem-Aranha: tentar superar os momentos de fan service, aqueles em que o pessoal pula da cadeira ao ver um personagem conhecido dar as caras da mesma forma que uma participação especial de sitcom aparece e aguarda o público parar de aplaudir para poder começar a falar. Aqui temos esse momento também, mas diferente de Sem Volta para Casa, não há nostalgia suficiente para aplacar o público, sem contar com a enxurrada de rumores sobre participações especiais na cena em questão. Até mesmo a inevitável cena pós-créditos age contra o próprio final do filme, adquirindo um tom oposto a ele.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Benedict Cumberbatch como Dr. Stephen Strange em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura ©Marvel Studios 2022. Todos os direitos reservados.

O leitor pode confundir esses últimos parágrafos como críticas de um autor ranzinza que não gosta desse tipo de filme. No entanto, é exatamente por gostar tanto desses personagens e de seu diretor que eu gostaria que ele estivesse livre dessas amarras para fazer não apenas um filme que vai divertir por duas horas (ele vai, e muito), mas um que será lembrado décadas depois. É irônico que a mão que se ergue do túmulo aqui, como em vários outros filmes de Raimi, seja a mão dele próprio tentando fazer algo original e não ser soterrado pelas obrigações de fazer referências, fechar e abrir histórias que não lhe interessam.

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Doutor Estranho no Multiverso da Loucura Pôster
País: EUA
Direção: Sam Raimi
Roteiro: Michael Waldron
Idioma: Inglês

Respostas de 7

  1. Vim ler a crítica por curiosidade e fiquei com vontade de voltar a assistir filmes de super-heróis (depois de anos sem fazê-lo)! Obrigado!

  2. Otima critica como sempre.
    Tenho assistido todos os spin-offs da marvel pra poder entrar na fase 4 entendo (quase) tudo que ta acontecendo na tela. Pelo visto o tempo gasto foi bem investido. Agora e’ esperar chegar no “Sidney”+

    1. Vim ler a crítica por curiosidade e fiquei com vontade de voltar a assistir filmes de super-heróis (depois de anos sem fazê-lo)! Obrigado! Ótimo texto!

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