Crítica de filme

Crítica | A ironia de ‘Eu Me Importo’

Publicado 4 anos atrás

Quando vi o rosto de Rosamund Pike como protagonista de Eu Me Importo (I Care a Lot, 2020), o sinal de alerta apitou e pensei: “lá vem filme bom!”. “Mas por que você pensou isso?’, você poderia me perguntar. Porque a atriz tem o histórico de se engajar em boas produções, acertando muito mais do que errando e, ainda bem, não me decepcionei. Sim, o longa do diretor J Blakeson, disponível no catálogo Netflix é bom. Muito bom.

Marla Grayson (Rosamund Pike) é uma guardiã legal corrupta que drena as economias de seus curatelados através de um esquema bem planejado, porém um dia ela tenta enganar uma mulher que acaba sendo mais do que parece à primeira vista.

Eu Me Importo Marla, Fran e Jennifer

Assim, mesmo diante de mais uma incrível vilã de Pike (ela é inesquecível com sua Amy Dunne de Garota Exemplar, 2014) e de mais uma atuação impecável de Peter Dinklage (nosso eterno Tyrion Lannister), e muito além do caráter mais intimista da película – com poucas cenas externas e uma luz bem forte, quase estourada -, Eu Me Importo trata de impotência. Impotência da sociedade diante do sistema controlado e muito bem organizado por um pequeno, ou melhor, ínfimo grupo de pessoas. E eu não falo do sistema estatal. Não. O roteiro do filme revela por sua trama muito bem construída como o sistema estatal, que supostamente deveria nos proteger, muito pelo contrário, serve a esse outro poder, sanciona-o, algumas vezes até mesmo sem saber.

E qual é esse poder? Ele não tem nome, mas podemos chamá-lo simplesmente de Mal. O Mal recebe várias denominações, tais como Máfia, Tráfico e, talvez, o pior de todos, Corrupção. E Eu Me Importo trata de tudo isso, o título do filme sendo uma gigantesca ironia porque o Mal pouco se importa com nada e com ninguém.

Eu Me Importo Roman

O longa, aliás, é inteiramente uma grande ironia, porque tratando do antônimo do Bem, apresenta-se todo com muita beleza, a começar pela protagonista, a bela Rosamund Pike, mesmo que ela tenha sido obrigada a ostentar cabelo de Playmobil (sendo esta a parte mais fraca de todo o filme). Dessa forma, com Pike cotada para receber o Globo de Ouro 2021 na categoria de Melhor Atriz, Eu Me Importo poderia até ter sido mais reconhecido na temporada de premiações, a não ser no quesito cabelo e maquiagem, onde pecou. Já o figurino é outra história e, elegante, completa essa imagem bonita tão antagônica.

Para completar essa linha de raciocínio, outra contradição da película se revela na escalação de Peter Dinklage como a outra ponta do Mal, um homem tão pequeno representando um poder tão monstruosamente enorme e tão completamente discreto que nós nem percebemos que já fomos totalmente engolidos por ele e estamos sendo digeridos. Não são só os velhinhos cujas fotos penduradas na parede de Marla já caíram em sua implacável teia de aranha, sem salvação, mas todos os que um dia ainda serão vítimas inexoráveis do tempo.

Eu Me Importo Marla e fotos

Eu Me Importo, portanto é mais um dos exemplos puros da arte imitando a vida, em que o Bem está tão amuado e confuso que já saiu da luta. Agora é bandido contra bandido, quase que uma guerra civil do Mal. Uma bela de uma representação. E nem é um filme de terror.

Compartilhar
Eu Me Importo Poster Maior

118 min min

País: EUA, Reino Unido

Elenco: Rosamund Pike, Peter Dinklage, Eiza González

Idioma: Inglês

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *