Crítica de filme

First Love

Publicado 5 anos atrás

Takashi Miike é uma das maiores referências do cinema japonês nos últimos 30 anos e também um dos mais prolíficos diretores japoneses em atividade. Sua produção é tão abundante que não é incomum ver até três de seus filmes lançados em um mesmo ano. Infelizmente, isso faz com que sua filmografia seja altamente irregular. Para cada Audition ou Ichi, O Assassino, temos vários outros que parecem ter sido feitos a toque de caixa, no piloto automático, mas F=felizmente, seu mais novo filme, First Love, tem saldo positivo, apresentando uma história divertida, embora sangrenta.

First Love

Ambientado em Tóquio, acompanhamos Leo, um jovem boxeador que acaba de sofrer uma derrota nos ringues e recebe uma trágica notícia sobre sua saúde. Logo depois, seu momento mais sombrio, ele encontra com Monica, uma menina em apuros que está sendo perseguida tanto pela polícia quanto pela Yakuza, a máfia japonesa, de onde fugiu. Ao decidir ajudá-la, Leo entra em uma guerra que também envolve a máfia chinesa e que pode causar um verdadeiro banho de sangue. Juntos, eles vão atravessar a cidade para tentar escapar da enrascada em que se meteram. Tudo isso em uma noite.

Uma das características do cinema de Miike está no seu constante flerte com o absurdo, nunca se importando em ser verossímil, flexibilizando as regras do mundo real. Prova disso está em uma das cenas iniciais, onde vemos um homem ser decapitado e seu corpo parece dançar por alguns segundos antes de ir ao chão. Seus personagens beiram à caricatura e alguns se mostram praticamente imortais, tamanha a violência a que são submetidos. Essa verve um tanto surrealista acaba sendo uma das maiores fontes do humor do filme. O diretor ainda bebe forte da fonte dos populares animes, com suas cenas de ação super estilizadas desafiando a realidade. Tudo isso contribui para um filme sempre dinâmico, repleto de cenas de ação criativas e divertidas.

Leo e Monica

É uma pena, no entanto, que o foco da trama – os dois jovens em fuga, seja um dos pontos mais fracos do filme. A Monica de Sakurako Konishi nada mais é do uma donzela em apuros, com pouca ou nenhuma agência, apenas um arco dramático em relação aos seus traumas que é resolvido abruptamente e abandonado em certa parte da projeção. Simultaneamente, Masataka Kubota tem a ingrata tarefa de interpretar Leo como alguém que não expressa suas emoções, deixando-o preso a um personagem que parece apenas irritado com tudo. Por outro lado, Miike parece muito mais interessado nos personagens que orbitam seu casal de protagonistas. Os destaques ficam para a quase indestrutível Julie (interpretada pela atriz Becky) e o traidor Kase (Shôta Sometani), principalmente na cena que envolve um pacote de cocaína sendo esfregado em seu corpo (pois é).

Enfim, apesar da falta de química entre os personagens principais, First Love tem elementos suficientes para manter a atenção do espectador do início ao fim.

Filme exibido no Festival do Rio 2019.

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Cartaz de First Love
País: Japão
Idioma: Japonês

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