Não é muito comum um filme de ação fora de alguma franquia já consolidada no cinema ter certa qualidade, especialmente na era dos serviços de streaming, em que as produções mais “arriscadas” acabam sendo despejadas em catálogos na espera de terem algum retorno que, nas telonas, pode ser incerto. O caso de Fúria Primitiva, um longa prescindido pela Netflix e adquirido pela Universal Pictures, mostra que, vez ou outra, o cinema ainda pode receber um filme de ação original para ser apreciado.
Dirigido e estrelado por Dev Patel, Fúria Primitiva (ou no original Monkey Man) acompanha Kid, um jovem adulto que ganha a vida lutando em um clube subterrâneo, onde, noite após noite, usa uma máscara de gorila e é espancado por lutadores em troca de dinheiro. Após anos de raiva reprimida, ele encontra uma maneira de se infiltrar na elite da cidade e se vê na oportunidade de conseguir vingança contra um homem que lhe tirou tudo na infância.
Muito mais do que um “John Wick da Índia” (que inclusive é referenciado no filme), o longa aborda assuntos mais pertinentes em meio à ação, que também é notável ao decorrer da trama, temas como privilégios de classes sociais, sociedade em castas, além de tópicos mais religiosos como o próprio hinduísmo e o Deus-Macaco, que é introduzido logo no início.
Ainda assim, o filme não está preocupado em injetar adrenalina durante toda a sua rodagem. Na verdade, a primeira grande cena de ação mesmo só acontece para lá dos 40 minutos, pois até então o diretor se compromete em introduzir mais da psique de Kid, sua rotina como lutador anônimo e seus traumas em relação ao passado, que são desdobrados ao decorrer da trama.
Mas falando propriamente das sequências de ação, elas infelizmente não impressionam. Mesmo com um alto teor gráfico, as cenas são pouco inspiradas e apelam para o clássico uso da câmera tremida para causar alguma sensação de adrenalina. Talvez pela inexperiência de Dev Patel, que está conduzindo aqui seu primeiro grande filme, fica a impressão de que em um longa do gênero ação, seu ponto mais fraco é justamente a ação. Apesar disso, todos os outros aspectos da produção compensam por si só.
Porém, mesmo com suas falhas, Fúria Primitiva é um exemplo de que é possível criar um filme de ação original e significativo, capaz de cativar e provocar reflexão no público. Ao focar não apenas nas lutas, mas também nos conflitos internos e no contexto socioeconômico do protagonista, o filme proporciona uma experiência cinematográfica mais profunda e reflexiva.
No fim, é uma produção que merece ser lembrada para além de 2024.