O primeiro Gladiador, dirigido por Ridley Scott, foi um filme de sucesso estrondoso, tendo ganhado suporte tanto por parte do público, quanto por parte da crítica especializada e vencendo cinco categorias no Oscar, incluindo a estatueta de Melhor Filme. Focado na história de vingança do General do Exército Romano, Maximus (Russell Crowe), traído e transformado em escravo e gladiador, a obra conseguiu o êxito de funcionar não só como um grande filme de ação, mas também como um drama humano envolvente, abordando questões como honra e afeto.
Então, quando depois de décadas, a sua sequência, Gladiador 2, foi anunciada, era certo que estávamos prestes a receber um filme grandioso em tamanho. E de certa forma, essa expectativa foi atendida. De volta à direção, Ridley Scott aumenta a escala em nome do espetáculo e não faz questão de esconder seu objetivo, claramente adotando a estratégia de que mais é melhor. As batalhas são esplendas em tom, coreografia e artifícios. Se no primeiro filme há uma sequência de batalha com tigres, dessa vez, há sequências com macacos, rinocerontes e tubarões. E com a exceção de alguns efeitos especiais não convincentes, a qualidade técnica desses momentos é impressionante, com o design de produção de Roma e seus arredores ganhando vida através de visuais arrebatadores.
Com Gladiador 2, o diretor Ridley Scott honra o passado, ao mesmo tempo que tenta trazer algo novo para as telonas.
Mas o mesmo não pode ser dito sobre a qualidade narrativa de sua trama, já que Gladiador 2 se sustenta em referências ao primeiro filme de forma um tanto quanto exagerada. Uma vez que o nome de Maximus é levantado por um dos personagens, ele continua sendo mencionado constantemente até os momentos finais do longa-metragem. A falta de equilíbrio na dosagem desses momentos acaba limitando bastante a carga dramática e emocional do filme, que infelizmente não consegue imprimir individualidade suficiente para sair da sombra do seu antecessor.
Seja na replicação da fórmula narrativa da obra original ou no uso exacerbado de easter eggs, a sensação que fica é que Gladiador 2 não consegue se sustentar por conta própria. Esse problema acaba prejudicando bastante o ator Paul Mescal, que mesmo sendo talentoso, não consegue encontrar espaço para tornar Lucius um protagonista carismático e interessante em personalidade. Já do outro lado da moeda, o personagem Macrinus (Denzel Washington), acaba se tornando o destaque do filme, graças a uma atuação de carisma e comando por parte de Washington, responsável por inserir seus diálogos com escolhas de extremo bom gosto que reforçam a naturalidade do ator em desaparecer dentro de seus personagens.
Outro ponto de execução que deixa a desejar é o terceiro ato da trama. Somos apresentados a pontos de virada narrativas que são até interessantes em concepção, mas que não ganham desenvolvimento suficiente para funcionarem de maneira efetiva. E a morte de um personagem, em especial, não tem o impacto que deveria ter porque o filme não permite com que o espectador absorva o peso desse momento, já que está mais preocupado em atingir a sua resolução de conflito de forma apressada.
No geral, o filme tem valor como entretenimento, cumprindo o seu papel como um blockbuster de ação e entregando o que se espera de obras que possuem essa proposta, trazendo intensidade nos momentos mais frenéticos e nunca entediando o espectador durante o processo. Mas a escolha de amplificar o barulho em detrimento da complexidade e individualidade de sua narrativa impede que essa sequência consiga alcançar o nível de excelência estabelecido pelo Gladiador dos anos 2000.
