Crítica de filme

Greed – A Indústria da Moda

Publicado 4 anos atrás

Quando pensamos no mundo da moda, geralmente o associamos com o glamour, e um exemplo claro disso é o filme O Diabo Veste Prada. Ainda assim, por detrás de cachecóis de seda e peças estonteantes, dá para perceber que esse universo não apresenta tantas coisas boas como aparenta. Greed – A Indústria da Moda não é um filme que fala sobre os elementos positivos desse mundo. Sua história é baseada na vida Philip Green, magnata que em 2012 ofereceu uma festa de aniversário cuja revista Vogue declarou ser extravagante até mesmo para os padrões exagerados do mundo fashion.

Assim, o bilionário britânico e fundador da Topshop levou 150 de seus amigos mais próximos, incluindo as celebridades, Leonardo DiCaprio, Kate Moss, Naomi Campbell, Gwyneth Paltrow e Simon Cowell, para um local misterioso — possivelmente um resort de praia no México — a fim de oferecer quatro dias de celebração para ele e sua filha Chloe.

Segundo relatos, haviam guardas armados patrulhando a festa em jet skis; uma boate de três andares instalada exclusivamente para o evento; uma exibição de fogos de artifício no valor de seis dígitos; um bolo de quatro camadas e performances de Rihanna, Stevie Wonder, Bruno Mars, Robbie Williams, Cee Lo Green e George Michael. Os convidados participaram de eventos temáticos e foram vestidos com roupas feitas sob medida — incluindo camisas de babados para uma festa flamenca e camisas havaianas para um churrasco na praia, com participação da banda Beach Boys. Supostamente, na mesma semana funcionários de fábricas exploradoras da Topshop estavam costurando roupas por apenas 64 centavos por hora em Sri Lanka, e essa dura realidade é retratada pelo cineasta Michael Winterbottom em Greed.

Interpretado por Steve Coogan, Sir Richard McCreadie é uma aproximação velada de Green. No filme, sua performance entrega de forma visceral a fome de poder que o personagem carrega durante a vida e, basicamente, essa trama deveria entregar detalhes sórdidos sobre os bastidores de uma indústria que alimenta o capitalismo de forma podre e desenfreada.

Entretanto, Greed peca em tornar seu enredo tão raso quanto seus personagens. Apesar dos esforços de um bom elenco, falta profundidade, o que acaba gerando arquétipos. O diretor até busca dar um cutucão no capitalismo, mas ele apenas flerta com a ideia de conscientizar as pessoas sobre as barbaridades que empresas como Forever 21 e Zara fazem para alcançar seu lugar na indústria da moda.

 

Assim, a história do filme é centrada em Nick (David Mitchell) um escritor quer foi contratado para contar a vida de Sir Richard, porém, à medida que ele vai adentrando no mundo do magnata, percebe que seu império foi construído nas costas do serviço escravo de mulheres da Ásia. Sem poder fazer muita coisa, ele deixa alguns acontecimentos passarem despercebido da família de Richard, que comporta todos os clichês da alta sociedade – tem o filho rancoroso (Asa Butterfield) por causa da falta de atenção do pai, mas que eventualmente será exatamente como ele; tem a filha (Sophie Cookson) obcecada pela fama à medida que constrói sua imagem através de um reality show fajuto; e claro, tem a ex-esposa glamorosa e de caráter duvidoso.

E é assim, nesse papel, que vemos como seus personagens foram desperdiçados. Isla Fisher entrega uma performance crua e totalmente verossímil em relação às dondocas da alta sociedade.

Dessa forma, e de fato uma pena que a ambientação do filme tenha se destacado mais que seus protagonistas. Todo o arco investigativo em cima de Sir Richard pareceu muito vago – não sabemos ao certo os desdobramentos das acusações que ele estava enfrentando e nem como ele chegou a esse ponto. A única coisa que ficou clara era que ele não se interessava por moda, não se interessava em proporcionar um estilo autêntico ao seu público. Como sempre, tudo se resumia a lucro, vida luxuosa, barganha e se livrar de pobres refugiados que estavam no caminho se sua festa particular.

Por fim, é possível ter noção de como essas grandes marcas de fast-shop funcionam: você tem consciência de que nada é feito de forma justa e legal. Apesar disso, essas marcas vão sobreviver, você vai, eventualmente, consumir produtos da C&A, Renner e Riachuelo, pelo simples fato se serem acessíveis. O capitalismo é desprezível e favorece apenas os mais privilegiados, porém, é praticamente impossível abrir mão de seus bens de consumo. Afinal, esse modelo social está em todas as esferas globais. O que podemos fazer é elevar pequenos negócios, tirar um pouco do lucro dessas grandes companhias. Afinal, ninguém quer financiar festas abastadas em ilhas paradisíacas sabendo que tem pessoas que mal compram comida com o “salário” dessas empresas.

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Greed Poster Maior
País: EUA
Idioma: Inglês

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