Ambientado em um futuro próximo, em que os EUA estão dilacerados por uma Guerra Civil, o filme acompanha um grupo de jornalistas em uma jornada pelo país dividido. A fotografia é marcante, capturando com intensidade tanto a beleza quanto o horror dos cenários destruídos pela guerra. A direção de Garland mantém o ritmo firme — ao menos em seu início.
A tensão constante e desconfortável é o maior acerto do filme. Todos nós conseguimos enxergar perfeitamente os caminhos dos embates políticos que podem nos levar eventualmente a um destino semelhante ao retratado no filme. A verossimilhança é inquietante. Mas aí está o problema: Garland evita tomar partido. O roteiro se recusa a atribuir culpa política ou ideológica a qualquer um dos lados do conflito, optando por uma neutralidade que parece mais covarde do que estratégica. Em um contexto em que as divisões políticas são tão reais e palpáveis, essa falta de posicionamento soa menos como uma escolha artística e mais como uma fuga.

Parthenope: uma análise sobre a beleza, o vazio e as relações superficiais em um filme que exige um olhar atento para além do óbvio.
Em uma trama cuja proposta inerente é a de causar reflexão e nutrir pensamentos, tal desvio covarde é um crime e tanto. Talvez o diretor entenda que sua ideia é tão óbvia que não precisa ser dita (e o atual contexto político estadunidense traz clareza mental), mas é naturalmente humano buscar nos sinais que vemos as justificativas que reforçam nosso ponto de vista. Portanto, apenas o texto implícito não basta.
O elenco é um dos pontos fortes. Kirsten Dunst entrega uma das grandes performances da carreira como uma fotógrafa de guerra experiente, equilibrando dureza e fragilidade em uma fachada de quem já viu demais para se abalar. Wagner Moura e Cailee Spaeny também são excelentes, com Spaeny vivendo um arco emocional convincente. É possível sentir o peso do que os personagens enfrentam, mesmo quando o universo ao redor deles parece pouco aprofundado.
Decisões covardes à parte, o maior tropeço do filme está em seu desfecho. O que começa como um filme tenso e bem conduzido, aos poucos perde o fôlego e se arrasta em repetições. Quando a narrativa deveria atingir seu auge, ela enfraquece, e o impacto emocional se dilui quando subitamente nos vemos diante de um longa de ação – uma ação desnecessária – que traz consigo um clímax tematicamente profundo, mas melodramático demais.
A trilha sonora também decepciona — muitas vezes intrusiva, mal encaixada e mais distrativa do que imersiva. Em cenas que pedem silêncio ou uma música sutil para construir tensão, o filme opta por inserções sonoras que quebram o clima.
No fim, Guerra Civil é um projeto ambicioso com momentos de força, mas que se acovarda na hora de se posicionar. Em vez de ser incisivo, opta por uma neutralidade que o esvazia. É tecnicamente bem feito e conta com ótimos atores, mas falta coragem para dizer algo significativo.