Crítica de filme

Crítica | ‘Identidade’ foge dos padrões de Hollywood com um drama tenso e questionador

Publicado 3 anos atrás

Lançado pela Netflix, Identidade é uma adaptação do livro de Nella Larsen, dirigido pela estreante Rebecca Hall (antes conhecida apenas por seus papéis como atriz nos filmes Vicky Cristina Barcelona e O Grande Truque) e protagonizado por Tessa Thompson e Ruth Negga.

A estória, que se passa nos anos 20 do século XX, acompanha Irene (Thompson), uma mulher negra e ativista dos direitos das pessoas negras, quando em uma rara ocasião em que precisa visitar o lado branco da cidade, acaba se reencontrando com uma amiga de infância, Clare (Negga) e fica surpresa ao saber que esta se passa por uma mulher branca e é casada com um bem-sucedido banqueiro racista (Alexander Skarsgard).

Após o breve encontro, Clare começa a se insinuar para fazer parte da vida de Irene – mesmo que a segunda não esteja confortável com isso – e esta questão nunca nos é completamente revelada, apenas insinuada na forma de uma certa tensão sexual e afetiva, demonstrando que a separação das duas no passado deixou marcas.

Essa nova rotina começa a ficar conturbada especialmente pelo lado intenso de Clare, que não se preocupa em correr riscos, mesmo que tais riscos envolvam escândalos em uma sociedade conservadora.

A composição das duas protagonistas enche a tela durante a maior parte do longa, quando percebemos várias nuances, especialmente em Irene, que está passando por um período de depressão, potencializado pela presença da suposta amiga, o que é agravado pela insinuação da mesma sobre o marido de Irene, ameaçando arruinar também sua vida familiar.

Para potencializar o sentimento de claustrofobia sufocante vivido por Irene, Hall, juntamente de seu diretor de fotografia, optam por captar o filme na proporção 4:3, com uma coloração preto e branco desbotada, emulando fotografias antigas, para ilustrar o clima da época.

Outra questão abordada pelo filme é a insinuação do lesbianismo ou bissexualismo das protagonistas, algo que aumenta ainda mais a pressão vivida pelas personagens, que já são mulheres em um ambiente extremamente machista, negras em um ambiente extremamente racista e, para piorar, com naturezas não heterossexuais em um ambiente intensamente homofóbico e intolerante. Dessa forma, sempre que Clare cria situações incômodas, sempre com seus sorrisos provocativos e atitude petulante, o desespero de Irene salta da tela, contagiando ao expectador.

De ritmo relativamente lento em que Hall gasta o tempo que for preciso para desenvolver o tema a que se propõe em cada cena e um roteiro não convencional segundo os padrões de Hollywood, em um óbvio exemplo de narrativa moderna, Identidade se baseia na sutileza para desenvolver seu enredo e, apesar de muito provavelmente não ser capaz de agradar a todos os públicos, com certeza irá agradar e surpreender àqueles mais atentos e apreciadores de obras mais contemplativas e provocativas de forma delicada.

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Identidade
País: Reino Unido
Idioma: Inglês

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