É, no mínimo, curioso que essa animação se inicie com o logo da Warner Bros., considerando as recentes decisões administrativas desde que David Zaslav assumiu a posição de CEO do estúdio. Sob sua gestão, diversas medidas foram implementadas para limitar o acesso a animações clássicas da empresa ou, em alguns casos, cancelar totalmente produções animadas, mesmo aquelas em estágio avançado de produção e até mesmo películas finalizadas.
Nesse contexto duas produções chamaram atenção da mídia especializada: Coyote Vs. Acme e justamente Looney Tunes: O Dia Que a Terra Explodiu. Ambos os filmes estavam finalizados, mas em uma decisão no mínimo questionável, foram arquivados para garantir uma suposta isenção fiscal para a empresa e nunca seriam lançados para o público.

Apesar de dissonâncias, ‘A Mais Preciosa das Cargas’ conversa com interessante tradição pictórica para contar história da Segunda Guerra.
Após meses de críticas e apelos de profissionais da área e de parte do público, a Warner decidiu então vender os direitos de distribuição dos dois longas para a Ketchup Entertainment, uma empresa independente de produção e distribuição de filmes. Graça a ela, finalmente chega aos cinemas (aqui no Brasil pela Paris Filmes) o primeiro longa-metragem 100% animado da turma do Pernalonga.
Estrelado pela dupla Gaguinho e Patolino (novamente dublados por Manolo Rey e Márcio Simões, respectivamente, na excelente versão brasileira), Looney Tunes: O Dia Que A Terra Explodiu vai contar como essa dupla improvável pode ser nossa única defesa contra uma ameaça alienígena. Como o título já dá a dica, o longa vai se inspirar nos clássicos da ficção científica dos anos 1950 e 60, com várias referências desde o enredo até boa parte do seu design de produção. A escolha da dupla de protagonistas para um filme deste gênero também faz muito sentido uma vez que também estrelaram o curta de 1953 e a subsequente série de Duck Dodgers no início dos anos 2000.
A história do longa, no entanto, é original. Criados juntos desde a infância pelo Fazendeiro Jim, Gaguinho e Patolino chegam à vida adulta e precisam trabalhar se quiserem manter a casa onde moram. Estabelecendo uma dinâmica de personalidades opostas, Gaguinho é o sensato da dupla, organizado e responsável, enquanto Patolino é o maluco, destrambelhado, que não se importa com a consequência dos seus atos. Quando finalmente encontram um trabalho estável em uma fábrica de chicletes, acabam tropeçando em uma trama de conspiração interplanetária que pode acabar com a vida na terra.
O ritmo frenético do enredo é também acompanhado pela metralhadora de piadas que pipocam na tela a cada minuto. Sejam gags físicas, comentários metalinguísticos ou ação desenfreada, o filme representa bem as produções originais dos Looney Tunes onde pouco ou nada é levado a sério – uma anarquia pra lá de divertida.
Mas nada disso faria sentido se a produção não tivesse caprichado na qualidade da sua animação. Apostando na tradição das animações em 2D, mas também aliado às evoluções do meio animado nas últimas décadas, Looney Tunes: O Dia Que A Terra Explodiu nos mostra que nem tudo precisa ser feito em computação gráfica hiper-realista o tempo todo. A animação fluída e com diferentes estilos de arte representados na tela mostram que a animação é um meio de se fazer cinema, e não apenas um gênero infantil. A nostalgia dessa arte pode atrair os mais velhos, mas com certeza também deve encher os olhos dos mais novos também. E que bom que ainda podemos apreciá-lo na tela grande.
P-P-Por hoje é só, pessoal!