Em 2014, ao lançar Lucy, Luc Besson mais uma vez provaria sua genialidade como cineasta. Antes de mais nada, é preciso esclarecer que estamos falando de um filme que é muito mais do que aparenta à primeira vista, que disfarça seu conteúdo rico e extremamente inteligente com bastante ação e, porque não dizer, um pouco de humor.
Lucy é Scarlett Johansson fazendo o que sabe fazer melhor e, como de costume, dando show. É a Viúva Negra sem traumas e ainda mais poderosa e capaz, a Natasha Romanov que não precisa dos Vingadores para absolutamente nada, que não recebe ordens nem responde a ninguém.
É a realização de um diretor que, de um roteiro admiravelmente simples, consegue extrair um conteúdo tão relevante e complexo quanto é a evolução humana, uma representação espetacular de uma questão que nos persegue já há algum tempo: o que aconteceria se fôssemos capazes de utilizar a totalidade de nossa capacidade cerebral?
Tal questionamento polêmico não pode ser respondido nem pelas mentes científicas mais brilhantes, como bem salienta o Professor Norman (Morgan Freeman) em sua interessante palestra sobre o desenvolvimento de nossa raça -afinal, chegamos onde estamos empregando apenas 10% do que somos capazes.
Mas Besson quis fazer sua conjectura, usando e abusando do simbolismo desde o primeiro minuto do filme, onde vemos um primata bebendo água no rio, e em seguida, cortando para Johansson, considerada ainda hoje como um dos mais altos ícones da beleza (será que da evolução também?).
Assim, a trama gira em torno de Lucy, uma jovem normal que se envolve com o cara errado e acaba ingerindo uma quantidade considerável de uma substância que, numa velocidade gradual, mas rápida, faz seu cérebro atingir 100% de capacidade. Sem saber o que fazer com a enxurrada de conhecimento que agora experimenta, ela busca a orientação do Professor Norman, um cientista que, nas palavras da própria Lucy, possui uma compreensão rudimentar sobre o assunto, embora estivesse no caminho correto.
Dessa forma, a montagem narrativa de Besson somado ao talento de Johansson, produziram uma experiência interessantíssima de se assistir. O diretor aplica muito o plano e o contra plano, de modo que possamos perceber plenamente a mudança de postura e expressão da atriz, que vai ficando cada vez “menos humana” à medida que vai dominando mais e mais o cérebro.
Dessarte, as emoções que a vemos experimentar logo no início da película, quando é sequestrada – como o desespero e a dor -, vão sumindo, até não sobrar mais nada. Não há mais medo, alegria, desejo, dúvida. Nada. Só Johansson sendo espetacular. Sua indicação ao Critics’ Choice Movie Awards em 2015 como Melhor Atriz em Filme de Ação não foi à toa e, em minha humilde opinião, ela deveria ter ganhado.
É por isso que Lucy, com todas as suas representações, é um grande exemplo da ambiguidade do cinema e, portanto, do seu fascínio. Dinâmico e instigante, o longa vai te fazer pensar, mas somente se você quiser. Se não, você poderá contentar-se em ver a Viúva Negra ainda mais poderosa em suas cenas de ação. De uma forma ou de outra, Besson vai prender sua atenção.
Respostas de 3
O roteiro de Lucy vai bem além de qualquer filme de ação da Marvel, e Scarlett nesse filme também foi. Bela crítica!
Eu realmente gosto desse filme! Muito obrigada, João!
Gostei do filme é da crítica