Mank: O poder das produções cinematográficas
Cidadão Kane, de Orson Welles, é considerado um dos maiores clássicos do cinema de todos tempos. Sabendo dessa imensa relevância que há sobre o filme, a Netflix aproveitou para fazer um longa cheio de estilo e qualidade para contar um pouco sobre a produção desse clássico. Ambientado nos anos 30, o fIlme conta a história de Herman J. Mankiewicz (Mank), o roteirista responsável por essa aclamada obra.
David Fincher, diretor de Mank, resolveu nos transportar para os anos 40 criando toda a atmosfera do período de ouro do cinema. Sua fotografia preta e branca, além de nos remeter a época, também mostra a perspectiva do diretor ao retratá-la. Toda essa parte técnica de imersão é muito bem construída, desde o som até a imagem.
Não sei se outro filme já havia feito isso, mas Mank traz consigo uma experiência auditiva diferente também. Quando um filme moderno escolhe usar estilos antigos – como a imagem em preto e branco – por algum motivo, normalmente o som é preservado com a tecnologia atual (falo isso baseado em minha experiência com o cinema). Já em Mank, o som também é alterado e adaptado para ajudar na imersão do público, transformando, assim, a experiência audiovisual completa.
Ao invés de usar uma proporção de imagem 4:3, muito usada nos anos 40 e 50, a produção escolhe usar a tecnologia chamada Cinemascope (projeção mais “esticada” que a normal com a proporção 2.66:1), trazendo um tom mais moderno para o filme, mesmo sendo em preto e branco.
Assim como os aspectos técnicos da produção da obra, as atuações também têm muito peso. Destaque para Gary Oldman (protagonista) que entrega a auto-desconfiança do personagem com seu trabalho, o mau humor, os problemas com o álcool, entre outros sentimentos e trejeitos que o senhor Herman Mankiewicz exige. Já os personagens principais têm seus valores narrativos, porém nada muito grandioso. Está tudo funcionando de forma harmônica e estética.
Falando do roteiro assinado pelo pai de David Fincher, Jack Fincher, a história se mostra interessante principalmente para os amantes da sétima arte. Dito isso, afirmo que Mank é sim um filme “nichado” para os estudantes e fãs de cinema. Isso fica evidente a partir do segundo ato, onde a narrativa escolhe entrar mais a fundo nos assuntos sobre produções e o backstage dos estúdios. É claro que, ser um filme para um público específico não é demérito, mas sim uma escolha que não interfere na qualidade.
Porém, a partir desse ponto, o longa se arrasta bastante, apresentando muitos diálogos lentos e repetitivos. Há, por exemplo, várias variações de uma mesma cena, tornando assim, o filme um pouco cansativo e nada dinâmico.
Mank também transita entre a comédia e o drama, fazendo uma mistura de gêneros bem dosada, porém sem intensificar nenhum deles. Isso o torna mais fraco por não criar nenhuma empatia com os personagens.
Diferente do roteiro, a edição segue um ritmo mais rápido. O diretor David Fincher escolhe transformar o espectador em observador, fazendo com que a câmera seja curiosa e acompanhe os personagens. Por não seguir o mesmo ritmo do roteiro, o longa acaba se tornando algo sem harmonia, sem comunicação entre as áreas. Somos apresentados a diálogos e situações longas, que exigem mais detalhes, enquanto a edição e a direção são mais dinâmicas, mais ágeis.
Assistir Mank, da Netflix, é uma experiência de imagem e som completa. Mesmo com alguns problemas no roteiro e na direção, o filme é sim importante para resumir um pouco do que era essa época de Hollywood. Sendo assim, digo que esse longa cumpre com seu papel de relembrar a história de um dos maiores filmes já feitos e também o de o apresentar às gerações novas que assistirão Cidadão Kane por conta desse filme.
VIVA O CINEMA! VIVA A PRODUÇÃO DE FILMES!