Para cineastas veteranos, desafiar convenções e explorar questões existenciais é mais do que um estilo – é uma marca de expressão. Megalópolis, dirigido por Francis Ford Coppola, nos transporta a uma Nova York futurista após uma catástrofe. No centro da trama está Cesar Catilina (Adam Driver), um arquiteto visionário que busca reconstruir a cidade com uma visão utópica, enfrentando a oposição do Prefeito Cicero (Giancarlo Esposito), defensor da ordem estabelecida. Essa batalha ideológica entre Cesar e Cicero levanta questionamentos sobre progresso e identidade urbana, e os coloca em lados opostos de um conflito que dita o tom do filme.
Os cenários e a estética arrojada da película projetam uma cidade imaginária, misturando utopia e distopia para levantar reflexões sobre ética e evolução social. Cesar é interpretado por Adam Driver com uma intensidade quase obsessiva, enquanto Esposito traz complexidade ao prefeito Cicero, moldando um antagonista imponente e resistente às mudanças radicais. Julia Cicero (Nathalie Emmanuel), filha do prefeito, vive o dilema entre o desejo de renovação e as expectativas de seu pai, proporcionando um olhar mais pessoal sobre o embate ideológico.
Não Solte” mergulha no terror psicológico com Halle Berry, explorando os limites da sanidade em um ambiente sombrio.
No entanto, o desenvolvimento narrativo desse embate perde força em meio a diálogos que, por vezes, se tornam exagerados e prolixos. A tentativa de Coppola de elevar o debate político para uma discussão filosófica sobre o futuro das cidades encontra barreiras em um ritmo muito lento, o que pode frustrar espectadores que buscam um drama mais dinâmico e envolvente. Apesar de propor questões ricas, a narrativa arrisca afastar o público ao priorizar uma exploração existencial densa em vez de um enredo ágil.
Visualmente, o filme impressiona, e a trilha sonora complementa a ambientação, mantendo o espectador envolvido em um cenário que oscila entre o familiar e o futurista. Megalópolis abraça o espetáculo visual sem sacrificar totalmente seu discurso, oferecendo uma experiência única e desafiadora que explora temas atemporais. Contudo, os debates existenciais que Coppola introduz, apesar de interessantes, estendem o tempo de duração do filme e resultam em uma obra que exige paciência do público.
As críticas podem argumentar que a ambição de Coppola resulta em momentos que parecem excessivos e repetitivos, prejudicando a fluidez da narrativa. No entanto, o diretor consegue entregar uma obra que ainda cativa por sua audácia. Megalópolis se firma como um novo marco na filmografia do diretor, sendo ao mesmo tempo uma reflexão sobre evolução social e um espetáculo visual.
No final, o longa falha em cumprir a promessa de uma reflexão profunda sobre o futuro da sociedade, apesar das intenções ambiciosas de Coppola. A tentativa de explorar questões filosóficas sobre o progresso e a identidade urbana é ofuscada pela falta de um ritmo envolvente e pela densidade excessiva dos diálogos, o que enfraquece a conexão emocional com o público. O filme, embora visualmente impressionante e repleto de ideias, acaba se perdendo em sua execução, deixando a sensação de que o diretor não conseguiu entregar uma obra coesa e impactante como era esperado. O resultado final é uma experiência desafiadora, mas frustrante, que não consegue equilibrar a profundidade das questões levantadas com uma narrativa que cative e sustente o interesse do espectador.