Crítica de filme

Milagres do Amor

Publicado 4 anos atrás

Hoje “casamento às cegas” pode ser o nome de um reality show que conquistou o público e ganhou fama, mas esse costume era a mais pura realidade até pouco tempo atrás na história da humanidade, quando as pessoas se casavam com aquele(a) que seus pais escolhiam e só viam seu companheiro(a) de vida praticamente na hora de dizer o “sim”, sem saber o que iam encontrar. Foi assim com Mizgin (Biran Damla Yılmaz) e Aziz (Mert Turak) no filme turco Milagres do Amor (Mucize 2: Ask).

Fatp é que o casamento arranjado às vezes dá certo no cinema e na TV, basta lembrar do famoso casal Raj (Rodrigo Lombardi) e Maia (Juliana Paes) na também afamada novela de Glória Perez, Caminho das Índias (2009), ou então de Edgar (Thiago Fragoso) e Laura (Marjorie Estiano) – que foram eleitos o melhor par romântico de novelas do ano pelos votantes do Prêmio Noveleiros 2012 – na menos conhecida Lado a Lado (2012), de João Ximenes Braga Claudia Lage. Mas na história do diretor Mahsun Kirmizigül, quando Mizgin, a moça mais bonita da região, no dia de seu casamento finalmente conhece Aziz, o homem com quem passará o resto de seus dias, descobre que ele é deficiente físico.

A partir daí, ao longo de 128 minutos, a película turca traça uma árdua trajetória de superação, altruísmo, amizade e, como o próprio nome diz, de amor, mas não sem antes romper os obstáculos da autopiedade e – o mais difícil de todos levando em consideração o caso em análise – do preconceito.

milagres do amor lama

E como é feio esse tal do preconceito e como é difícil nos livrar dele, entranhado que está em nossa própria condição humana. Mas aqui, no longa de Kirmizigül, o espectador consegue superá-lo pelo menos por um par de horas, já que não há como não amar Aziz e seu imenso coração. Ele é comparado a lesmas e ao próprio Corcunda de Notre e Dame (podendo Mizgin ser comparada à Esmeralda), e há várias menções ao astro Kirk Douglas -, um dos maiores atores da época de ouro do cinema americano, na década de 60 – enquanto nos são mostradas imagens da pobre figura torta do protagonista.

A propósito, merece destaque a interpretação de Mert Turak, notável em seu papel de deficiente, o que acabou tornando-o muito competente na tarefa de tocar nosso coração. Biran Damla Yılmaz não fica muito atrás com toda a sua dedicação e carinho.

milagres do amor fazendo a barba

Por outro lado, mesmo que além de longo Milagres do Amor seja um pouco parado, a trilha sonora é uma delícia, ajudando até a criar situações engraçadas quando aliada à boa atuação de Turak. E isso sem falar na bem-vinda e bem colocada metalinguagem cinematográfica, uma vez que um dos personagens mais importantes do filme, interpretado por Erdal Özyagcilar, é apaixonado pela arte e possui um Cinema na pequena cidade onde mora. Ele sempre promove um jogo em que as pessoas devem adivinhar qual é o filme a partir de citações memoráveis do texto de filmes famosos, e aí são citados clássicos como o célebre Ben-Hur.

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Fica claro também, em cenas como a da sessão de cinema para os deficientes, como as películas podem trazer alegria e como, desde seu nascimento, povoam o imaginário das pessoas – haja vista o personagem de Özyagcilar, que nunca se casou, esperando ter seu happy end com a mulher por quem era apaixonado e que o tinha abandonado.

Começo enfim a perceber que o cinema turco tem um viés dramático pronunciado, mas mesmo assim, devo dizer, como derradeiro, que assistindo a essa história, só conseguia lembrar do inesquecível Tyrion Lannister (Peter Dinklage), de Game of Thrones, ele próprio um ser deformado, quando exclama do alto de sua avantajada inteligência: a morte é terrivelmente final, enquanto a vida é cheia de possibilidades. São milagres do amor.

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milagres do amor poster
País: Turquia
Idioma: Turco

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