No final dos anos 90 e início dos anos 2000, a Disney criou o hábito de lançar sequências de clássicos do estúdio direto no formato de DVD. Esses filmes ficaram conhecidos por apresentarem uma qualidade duvidosa, que de certa forma, explicava o formato de lançamento dessas obras, já que era visível a falta de tempo e cuidado colocados na execução desses projetos. Moana 2 está sendo lançado em 2024, mas se encaixa perfeitamente nos critérios dessa categoria. A diferença é que, dessa vez, o filme entrou em cartaz nos cinemas.
Moana 2 é uma sequência da Disney cuja a existência parece estar mais voltada a conquista de lucro do que ao objetivo de criar uma boa história para ser contada, sendo inferior a obra original em todos os aspectos possíveis. Originalmente, o material que é visto em tela, foi planejado como uma série a ser lançada no streaming do estúdio, Disney+, mas essa ideia foi descartada e eles decidiram reformular o conteúdo que tinham em mãos, afim de transformá-lo em um filme.
Com sucesso, ‘Alien: Romulus’ pega o que há de melhor no filme anterior, Alien e atualiza para o século XXI.
Essa decisão de última hora consegue ser sentida de forma clara durante o longa, com a história soando incompleta, apressada e também sofrendo de uma falta de urgência que prejudica a ressonância emocional da jornada da protagonista. Enquanto Moana (Auli’i Cravalho) é introduzida ao conflito principal da sua nova jornada ao longo do primeiro ato do filme, Maui (Dwayne Johnson) já está envolvido nele a partir do primeiro momento em que reencontramos o personagem, criando a sensação de que certas cenas ficaram de fora do corte final, prejudicando a estrutura e lógica interna do projeto.
Os novos personagens introduzidos nesse capítulo também não convencem, sem que nenhum deles consiga ganhar espaço suficiente para deixar sua marca na mente do espectador. Entre eles, Matangi (Awhimai Fraser), uma semideusa que tem um passado complicado com Maui, e Simea (Khaleesi Lambert-Tsuda), a irmã mais nova de Moana, são as adições de maior potencial, mas infelizmente ambas não são exploradas de maneira envolvente ao ponto de causarem uma verdadeira impressão em quem está assistindo.
A ausência de Lin-Manuel Miranda na composição da trilha sonora do filme é outro aspecto que prejudica o resultado final. Se no primeiro filme tínhamos canções contagiantes, ricas em personalidade e que moviam a história dos seus personagens de forma eficiente, o conjunto de músicas do seu sucessor é fraco tanto em qualidade musical quanto em qualidade narrativa, sem ganchos potentes ou uma musicalidade chamativa que consiga prender a atenção do ouvinte.
Em defesa do filme, nem tudo nele é completamente apático. A qualidade técnica da animação é ótima, apesar do movimento e fluidez da água apresentar uma rigidez estranha em certos momentos. Os elementos da história relacionados a cultura da Polinésia também continuam sendo destacados com bastante respeito, ainda sendo capaz de conferir a Moana o diferencial responsável por lhe transformar na personagem cativante do filme original.
Mas em soma total, Moana 2 é o resultado direto de uma Disney em escassez criativa, não sendo capaz de oferecer uma história empolgante que justifique a sua existência dentro do que agora será uma franquia. E digo isso porque existe uma cena após os créditos finais que confirma que teremos um terceiro filme da heroína em um futuro próximo. Se tivermos sorte, talvez ele seja melhor do que a sequência que nos foi oferecida dessa vez.