Nosferatu, o mais novo filme de Robert Eggers, estreia nos cinemas brasileiros em 2 de janeiro de 2025. A história é uma releitura do clássico do cinema alemão de mesmo nome lançado em 1922, uma adaptação não oficial do livro Drácula, escrito por Bram Stoker em meados de 1897. No filme, o corretor de imóveis Thomas Hutter (Nicholas Hoult) precisa vender uma mansão localizada na sua cidade para o excêntrico Conde Orlok (Bill Skarsgård), que mora em um castelo em uma região próxima. A partir desse encontro, coisas estranhas começam a acontecer e Thomas se dá conta que Orlok é um vampiro poderoso, que demonstra um interesse insaciável em relação a sua esposa, Ellen (Lily-Rose Depp).
Robert Eggers tem um olhar objetivo em relação ao terror. O cineasta compreende que o horror de gênero está associado com o poder da nossa mente de reagir ao sugestivo e o desconhecido. O incerto é muito mais apavorante do aquilo que é possível ponderar, e sua versão de Conde Orlok traz muito dessa abordagem em como ele se manifesta durante a trama, se portando mais como uma entidade do que necessariamente uma criatura. Todas as suas interações com Ellen são desconfortáveis, não só pelo modo como ele a caça, mas também porque ele evoca na personagem um sentimento de desejo e pertencimento que ganha uma conotação sinistra. Ela sabe que corre perigo, mas ao mesmo tempo, sente uma atração mortal por esse peso que a persegue.
Desprovido de tensão, ‘Lobisomem’ falha em trazer o que se espera de um filme em qual a ameaça principal deveria evocar algo além do tédio.
Todo o trabalho visual de Nosferatu chama muito a atenção. Desde o meticuloso design de produção dos cenários e figurinos de época até a cinematografia, que é sem dúvidas um dos aspectos mais impressionantes do filme. O trabalho de fotografia de Jarin Blaschke complementa a atmosfera do longa com muita eficiência. O modo como a composição de imagens brinca com a escuridão, sombras e silhuetas resulta em uma experiência sensorial de qualidade, que consegue evocar todo o teor macabro presente no projeto, também em sua representação visual.
A sequência em que Thomas chega ao castelo e tem seu primeiro contato com o Conde Orlok talvez seja o melhor exemplo da combinação imersiva entre a direção de Eggers e o trabalho de imagem de Blaschke. Nicholas Hoult, que está excelente em tela, consegue transparecer todo a apreensão do seu personagem, te fazendo mergulhar naquele experiência junto com ele. O corretor percebe que algo não está certo, mas ele simplesmente não tem agência dentro daquela situação e o sentimento de acompanhá-lo tentando sair do local antes que seja tarde demais é uma aula de construção de tensão.
O resto do elenco também consegue brilhar em diferentes momentos. Bill Skarsgård, em mais um papel que exige próteses e maquiagem, entrega um trabalho vocal e corporal de extrema qualidade e traz a vida todo o senso de perigo e perversidade que se espera do grande vilão. Já Lily-Rose Depp não apresenta uma consistência ideal durante todas as suas cenas, mas ganha momentos desconcertantes e potentes ao longo do caminho, principalmente quando se diz a respeito das sequências de sonambulismo de Ellen, em que a personagem é aterrorizada pelo vampiro.
Mas nem tudo é um exemplo de boa execução. A segunda metade do filme perde gás antes de encontrar sua conclusão. A atmosfera que faz a primeira metade do longa funcionar tão bem ainda está presente durante a chegada de Orlok na cidade, mas a medida que a obra tenta se encaminhar na direção de sua resolução, acontece uma virada de abordagem e a sensação que fica é de que o estúdio pediu para que os roteiristas entregassem explicações concretas para o espectador, com os personagens interagindo através de diálogos extremamente expositivos que descrevem passo a passo como será a resolução da história, antes mesmo dela acontecer. Esse é um aspecto que faz com que o filme termine de forma morna e não atinja o nível de cuidado presente em seus dois primeiros atos.
Mas mesmo com um final que não vai ao encontro da qualidade de outros aspectos presentes no projeto, o resultado geral ainda é positivo. Nosferatu é um grande exemplo de um trabalho de gênero feito por uma equipe que é capaz de identificar o que faz o terror ser tão envolvente. Um filme de tom angustiante e roupagem gótica que consegue provar que existe mérito em reintroduzir uma história já contada, graças a diferentes métodos de storytelling e uma qualidade técnica inegável. Vale a pena conferir.