Poucos filmes me incomodaram tanto quanto Notre dame (2019). Impossível conceber como alguém pode entender que a obra da diretora Valérie Donzelli, que também protagoniza o longa, possa ser uma declaração de amor à capital francesa, quando é justamente o contrário. Na verdade, o filme é uma profanação de valores morais e religiosos que se utiliza, para isso, de um dos maiores símbolos da Cidade Luz: a belíssima catedral de Notre Dame, prédio que já foi palco e inspiração para tantas outras histórias incríveis, como a famosa animação da Disney, O Corcunda de Notre Dame.
No enredo, Maud (Valérie Donzelli) é uma arquiteta que acidentalmente ganha um concurso lançado pela prefeitura de Paris para reformar a esplanada de Notre Dame ao mesmo tempo que descobre que está grávida e reencontra uma ex-paixão do passado.
Nada demais com a ideia geral do filme que, se tivesse sido realizada de outro modo, quem sabe poderia ter resultado em uma boa obra. Porém tudo, desde a cinematografia escolhida até a mensagem final da película, dá terrivelmente errado, e as coisas só vão piorando à medida que os 88 minutos vão se passando – pelo menos o filme não é longo, apesar de parecer.
Notre dame já começa ruim no primeiro ato, no acontecimento que dá o mote de toda a história, quando uma maquete feita por Maud vai parar na mesa da prefeita de Paris como se uma fada madrinha tivesse balançado sua varinha mágica para que isso acontecesse. Antes tivesse sido assim, mas na verdade, é um vento que começa a soprar e, suavemente, vai levando o objeto até a prefeitura, chegando até lá intacto e perfeito. É claro que estamos falando de uma comédia, mas até mesmo esse gênero deve obedecer a uma certa coerência para dar certo e, no filme, já o começo soa falso e artificial.
No entanto, essa faceta até poderia ter sido perdoada se o enredo tivesse seguido melhor, o que não é o caso. Maud é uma protagonista covarde que não tem coragem em nenhum aspecto de sua vida, seja o pessoal ou o profissional. Ela não consegue se livrar de Martial (Thomas Scimeca), seu ex-marido nudista e completamente abobalhado – por pura falta de iniciativa – como também não é capaz de finalmente se livrar do escritório de arquitetura em que trabalha (e que odeia) nem mesmo quando a oportunidade de sua vida se apresenta: o projeto gigantesco da reforma de Notre Dame com orçamento de vários milhões de euros.
Pouco carismática, a fixação de Maud com o pênis é um caso que nem Freud deve conseguir explicar, já que não dá para imaginar como alguém faria um projeto arquitetônico na forma do membro viril na explanada de uma catedral ou qualquer outro templo religioso -, ou mesmo que uma prefeita iria aprovar esse projeto, ou que esse projeto fosse ser justificado em comparação à Torre Eiffel. A arte não justifica tudo e o que foi feito em Notre Dame foi uma sincera agressão à moral, uma falta de respeito até, não só com a religião e os valores, mas com as próprias mulheres.
E não é só isso. Lá pela metade do filme Donzelli insere cenas que remetem ao antigo estilo do cinema mudo e, mais para o final, os personagens simplesmente começam a cantar, e isso sem contar o inacreditável julgamento, um show de barbaridades. Tais elementos, como dito anteriormente, mesmo considerando o gênero comédia no qual a película se insere, ficam completamente fora de contexto, falsos e artificiais, num humor que chega a ser pretensioso ou, no mínimo, de mau gosto.
Há pouco tempo, em 2019, a catedral de Notre Dame foi acometida de um incêndio, numa cena triste que causou danos sérios ao prédio. Ainda bem que não foi Maud quem a reformou.
Respostas de 2
Eita, DEUS me sobre desse filme.
KKKKKKKKK!