Crítica de filme

O Brutalista

Publicado 6 dias atrás
Nota do(a) autor(a): 2.5

O Brutalista, novo filme de Brady Corbet, é um projeto ambicioso de mais de 3 horas de duração que conta a história de Lászlo Tóth (Adrien Brody), um arquiteto hungrio-judeu que após sobreviver os terríveis eventos do holocausto, chega nos Estados Unidos em busca de um recomeço para ele e sua família. Após conhecer o excêntrico Harrison Lee (Guy Pearce), Lászlo é contratado para construir uma obra especial nos arredores do terreno de sua mansão. A partir daí, o que a primeira vista parecia ser uma oportunidade para uma nova ascensão profissional e financeira se torna uma fonte de complicações para Lászlo e sua esposa Erzébet (Felicity Jones), lançando uma sombra sobre o futuro próximo. 

Do ponto de vista técnico, O Brutalista é um trabalho impressionante. A fotografia de Lol Crawley, captada no formato VistaVision, que não havia sido usado na produção de longas-metragens em escala completa em mais de seis décadas, é rica em detalhes e ângulos, trazendo um escopo imersivo para o material que é desenhado em tela. Por se tratar de um projeto com foco em arquitetura, essa é uma decisão inteligente que ajuda a reforçar e perpetuar a atmosfera de “grande épico cinemático” que o filme resolve adotar. A trilha sonora é outro aspecto que é executo de maneira excelente. O compositor, Daniel Blumberg, oferece uma trilha de identidade forte que complementa as cenas com poder e elegância, sempre prezando pela sincronia entre imagem e som. Mas toda essa exibição de qualidade técnica não é suficiente para impedir que O Brutalista se torne uma decepção.

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Mas essa decepção não é trazida á tona por conta do elenco. Adrien Brody está excelente no papel do protagonista, entregando um trabalho visceral e intenso na pele de um homem seguido pela tragédia. O mesmo pode ser dito sobre Felicity Jones, que apesar de entrar em cena apenas na segunda metade do filme, consegue entregar um trabalho rico em personalidade e com direito a uma última cena memorável em presença e impacto. Guy Pearce é outro grande destaque em termos de atuação, inferindo seu personagem com uma imponência assustadora. Mas mesmo com o trabalho de alto nível entregue por parte dos atores, os seus personagens não são desenvolvidos de maneira satisfatória, muitas vezes transparecendo serem esboços inacabados de um potencial narrativo não explorado.

Existe um aspecto presunçoso na visão de Corbet que causa um certo nível de preguiça. Há substância de sobra nos temas que o filme levanta – desde o comentário sobre a influência do capitalismo em relação a integridade artística e trabalho criativo até o estudo da experiência imigrante e como uma oportunidade de recomeço não significa necessariamente uma chance de viver a liberdade quando o sistema existe em oposição a sua imagem. Mas ainda assim, a sensação que fica é que o diretor não foi capaz de argumentá-los de uma maneira única ou particularmente envolvente, priorizando o estilo acima de qualquer coisa, quase como se houvesse um achismo de que o simples escopo das questões levantadas pela obra já fosse o suficiente para justificarem uma possível grandiosidade intelectual por parte do projeto. Para um filme que tenta transmitir uma noção de profundidade de forma tão transparente é quase surpreendente notar que a sua abordagem é repleta de uma insinceridade que engessa a narrativa. 

Isso não quer dizer que o trabalho de Corbet seja de todo vazio. A abertura do filme, por exemplo, é uma sequência de tirar o fôlego, com a chegada de László em Nova York culminando em uma composição de fotografia deslumbrante, onde somos apresentados a Estátua da Liberdade do ponto de vista invertido, uma escolha visual astuta que já sinaliza a abordagem que o projeto irá traçar sobre a realidade do sonho americano. Ao longo do filme, somos presenteados com alguns momentos inspiradores tal qual os cinco minutos iniciais do longa, mas eles existem como objetos que atuam como exceção e não como um padrão de storytelling consistente e afiado que possa ser observado com frequência.

No epílogo do filme, desconectado do resto da obra em tom e execução, ouvimos a personagem de Zsófia (Raffey Cassidy/Ariane Labed), sobrinha de Lászlo, dar uma declaração cínica sobre as obras de seu tio: “Não importa o que os outros tentem te vender, não é sobre a jornada, mas sim sobre o destino”. É uma pena que O Brutalista parece nunca encontrar o seu. 

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O Brutalista Trailer

O Brutalista

The Brutalist
18
País: EUA, Reino Unido, Canadá
Direção: Brady Corbet
Roteiro: Brady Corbet, Mona Fastvold
Elenco: Adrien Brody, Guy Pearce, Felicity Jones
Idioma: Inglês, Húngaro, Italiano, Hebraico, Lídiche

Uma resposta

  1. Totalmente fora da “casinha” o escritor que se passa por crítico. O Brutalista e Um Completo Desconhecido são bons filmes, claro que o primeiro é melhor que o segundo. Mas uma nota 2,5 de 5 para O Brutalista? Com certeza não viu o filme num bom dia, ou simplesmente se cansou.

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