Crítica de filme

Crítica | A fria esperança de ‘O Céu da Meia-Noite’

Publicado 4 anos atrás

O gênero de ficção científica, por mais fantasioso que seja, sempre encontra suas raízes na nossa sociedade. Não importa o planeta ou o quão distante no futuro estão, essas histórias sempre traçam paralelos com o mundo em que vivemos. O Céu da Meia-Noite, nova produção da Netflix dirigida e estrelada por George Clooney, não foge a regra. Um conto de esperança em meio a tempos sombrios, o longa tenta nos mostrar que mesmo nas mais adversas situações sempre há a possibilidade de salvação, seja de um homem ou de uma civilização inteira.

o céu da meia-noite clooney

Em 2049, a Terra não é mais um planeta capaz de sustentar a vida humana. Após uma catástrofe global, a população do planeta precisa encontrar um outro lugar para viver. Na sua superfície, apenas um homem, o cientista Augustine (Clooney), mantém vigília solitária em uma base no Ártico enquanto espera que um câncer lhe tire a vida. Enquanto isso, a tripulação da espaçonave Aether retorna de uma missão de dois anos para explorar um possível planeta habitável. Alheios ao que aconteceu na Terra e sem saber que não podem retornar ao planeta, cabe a Augustine avisá-los antes que rumem para sua destruição. No entanto, a base em que está é incapaz de estabelecer comunicação com o espaço, forçando-o a fazer uma travessia mortal pelo gélido clima ártico até uma outra estação onde pode enfim realizar sua missão. Para piorar ainda mais a situação, Augustine encontra uma pequena garota aparentemente abandonada e não encontra outra opção a não ser levá-la junto em sua jornada.

George Clooney

Filmes pós-apocalípticos com uma dinâmica entre um adulto desiludido e uma criança não são novidade no cinema, vide A Estrada, com Viggo Mortensen, Logan e até no mundo dos games com The Last Of Us. Mas isso não implica que Clooney não tenha algo a dizer ao reutilizar essa dinâmica. Ao encontrar a pequena Iris (muito bem interpretada por Caoilinn Springall), Augustine tem a chance de revistar seu passado e fazer as pazes com as escolhas que o levaram até ali. E é interessante notar que toda essa relação é construída apenas com ações ao invés de palavras. Augustine e Iris quase não conversam, deixando que aos poucos o personagem de Clooney vá se abrindo à menina. Cabe ressaltar aqui a agilidade do diretor em transitar entre a calmaria e a tensão da jornada, às vezes cortando bruscamente entre um e outro para que fiquemos sempre receosos dos perigos que podem recair sobre eles.

Só esses ingredientes já garantiriam um filme completo, mas a história do personagem de Clooney cede espaço para o que acontece a bordo da Aether, mostrando os medos e anseios da tripulação ao se aproximarem da Terra e os perigos que esse retorno representa. Embora interessante e contando com cenas de tensão muito bem produzidas, essa divisão acaba por enfraquecer o impacto emocional do longa. Ao alternar os pontos de vista, acabamos por não estabelecer plenamente uma conexão emocional com qualquer um dos núcleos de personagens. Até os inevitáveis (nem todos) sacrifícios que são feitos ao longo da história soam mais como infortúnios do que as tragédias que o filme tenta vender. O bom elenco faz o seu melhor para que acreditemos que estes personagens mereçam a nossa afeição, com destaque para Felicity Jones e David Oyelowo, mas o pouco tempo de conexão que temos com eles não nos permite isso.

Felicity Jones e David Oyelowo

E isso obviamente afeta seu desfecho, que acaba por não atingir o espectador da maneira que deveria. A grande revelação e o momento que deveria ser de grande emoção do filme, o elemento que conecta as duas jornadas, resultam apenas em uma boa sacada dos realizadores, satisfazendo os espectadores que já tinham coletado as pistas deixadas ao longo da história. A mensagem de O Céu da Meia-Noite é clara em demonstrar esperança na humanidade, mas é uma pena que o tom seja frio como o Ártico que Augustine enfrenta.

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o céu da meia-noite poster maior
País: EUA
Idioma: Inglês

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