A história do cinema é repleta de casos de filmes lançados muito próximos uns dos outros que carregam semelhanças assustadoras entre si. Armagedom e Impacto Profundo (fim do mundo por meio de um meteoro gigante), Matrix e eXistenZ (a exploração de mundos virtuais), Ataque à Casa Branca e O Ataque (ambos sobre um agente protegendo o presidente dos EUA de um ataque terrorista) e muitos outros. Não é de se espantar, então, a chegada de O Chalé às plataformas de streaming nacionais. O longa carrega várias semelhanças com o sucesso de 2018, Hereditário, não só visualmente quanto tematicamente. A comparação, no entanto, desfavorece o irmão mais novo, que acaba soando derivativo e pouco original.
Dirigido por Severin Fiala e Veronika Franz, de Boa Noite, Mamãe, o filme conta a história de Grace (Riley Keough), sobrevivente de um culto suicida liderado por seu pai, que tenta uma vida nova ao lado noivo Richard (Richard Armitage, da trilogia O Hobbit). Ele, por sua vez, está no processo de divórcio com Laura (Alicia Silverstone), mãe de seus dois filhos, Mia (Lia McHugh) e Aiden (Jaeden Martell, o menino Bill de It – A Coisa). Após uma tragédia na família, Richard decide levar os filhos e Grace para o chalé do título durante o Natal para que eles se conheçam melhor e é lá que os traumas de Grace serão revividos.
Mesmo que o filme tenha um início forte, com a cena em que Laura bebe vinho na mesa da sala e toma uma decisão tão súbita quanto violenta, a própria premissa do longa se torna difícil de acreditar. Como que uma pessoa decide colocar na mesma casa no fim do mundo a nova namorada/noiva junto com os filhos que a culpam por terem destruído sua família? E ainda por cima deixa os três sozinhos por lá, uma vez que ele é chamado para voltar ao trabalho por alguns dias? São essas questões que desde o início fragilizam o longa.
Tais defeitos poderiam ser esquecidos se o resto da trama fosse instigante e original o suficiente. Infelizmente, é aí que as semelhanças com Hereditário começam a agir contra o filme, como se estivéssemos assistindo uma versão inferior deste. O longa traz os temas de família, perda, seitas, religião em uma narrativa arrastada e repetitiva. A cada dia que passa, algo estranho acontece, Grace questiona as crianças, elas negam e seguimos para o próximo dia. Até visualmente O Chalé remete a Hereditário ao usar uma casa de bonecas para ilustrar certos pontos da trama.
De positivo, as atuações principais de Keough e Martell seguram o filme. Elas nos fazem acreditar que quanto mais o tempo passa no chalé, mais ela vai perdendo contato com a realidade, e ele nos fazendo questionar se o que diz é a verdade ou não. O próprio chalé do título é bem explorado em sua frieza e opressão, com seus cantos escuros e uma pintura que parece observar a tudo e a todos. A atmosfera criada acaba por nos prender até o fim mesmo que não aconteça muita coisa até o terceiro ato.
Infelizmente, a virada final não deixa de ser previsível e, ao confirmar as nossas expectativas, nos faz questionar que tudo que se desenrolou dentro da casa poderia ter sido resolvido de maneira simples caso a protagonista tivesse alguns neurônios a mais. Vale dizer, no entanto, que isso não afetou a minha satisfação com o desfecho reservado para a maioria dos personagens. Resumindo, criança é f***.
Respostas de 2
Concordo, o filme é fraco e se leva demais a sério. Roteiro fraco, baseado em uma sinopse pouco inverossímil, é o start do insucesso dessa película. Acho difícil sair do purgatório dos filmes mais do mesmo.
Corrigindo: “verossímil”.