Wes Anderson retorna com seus maneirismos estéticos e simetrias dignas de referência em O Esquema Fenício. Assim como em alguns projetos anteriores, mais uma vez ele se inclina para o gênero da espionagem — pelo menos, essa foi a intenção dele. Pra mim, o filme fala muito mais sobre crescimento pessoal e relacionamentos familiares do que sobre intrigas entre capitães da indústria. Na verdade, a espionagem é apenas coadjuvante das interações excêntricas que o diretor insere tão bem em seu universo peculiar.
O magnata Zsa-Zsa Korda (Benicio Del Toro) está mais do que habituado a acidentes aéreos. Durante uma epifania espiritual em sua recuperação, ele volta para casa e decide nomear sua filha Liesl (Mia Threapleton) — que estuda para se tornar freira — como única herdeira de sua fortuna. Ambos embarcam na consolidação de um novo empreendimento, que se torna alvo de espionagem industrial, intrigas, ataques terroristas e assassinos contratados.

Instável em tom, mas eficiente em suspense e tensão, ‘Drop: Ameaça Anônima’ cumpre sua proposta e entretém ao longo de sua duração.
Tudo parece muito empolgante, mas, perdido em seus devaneios narrativos, Wes Anderson não se aprofunda tanto no gênero ação. A estética está lá, o timing cômico mais vivo do que nunca, mas o roteiro é desnecessariamente complicado e, por vezes, confunde nossa linha de raciocínio. É uma conspiração que depois vira um momento de reconexão familiar, que vai parar numa caça ao tesouro. Fica bem cansativo de acompanhar até certo ponto. O diretor precisava filtrar algumas ideias e se concentrar em tornar esse projeto mais simples — por mais que pareça blasfêmia, nem sempre um filme do Wes precisa de tanta pompa, e esse teve de sobra.
Para além disso, quem acompanha a trajetória do diretor não vai encontrar nada muito novo em relação ao que já viu anteriormente. Às vezes, sinto que seria redundante elogiar o trabalho de uma pessoa que entrega excelência nos mesmos elementos, então vou me limitar a enaltecer o design de produção e os momentos de humor do filme. Se minha opinião vale de alguma coisa, eu diria que o Wes deveria fazer comédias pelo resto da vida — e calçar as sandálias da humildade para não deixar seus trabalhos tão ambiciosos a ponto de cair no lugar comum. Tem hora que não faz mal tomar um pouco do suquinho comercial de Hollywood, pois funcionou muito bem em O Grande Hotel Budapeste.
Mas a grande revelação fica por conta de Mia Threapleton! Fico na torcida pra que essa nepobaby alcance tanto sucesso quanto sua mãe, Kate Winslet. Ela entende a hora de ser engraçada e quando entregar drama. Mesmo que sua personagem pareça travada e sisuda, ela mostra, através de sua personalidade e da boa condução da direção, que nasceu para as câmeras. Não só tem a melhor referência possível em casa, como também conta com um elenco de apoio fenomenal.
Michael Cera também entrega competência — e a única surpresa é por que ele demorou tanto tempo para trabalhar com Wes? É claro que ele se daria bem como um dos personagens peculiares de Anderson. Ele é a terceira perna que faz o tripé liderado por Benicio Del Toro funcionar. Na pele do infame Zsa-Zsa, Del Toro molda os contornos do personagem de forma muito harmônica — no começo do filme, nos perguntamos por que esse ricaço não morreu antes, mas é por causa da influência da filha e de uma consciência religiosa que ele termina o projeto num lugar de muita plenitude, tanto para ele quanto para as pessoas ao seu redor.
No fim, uma caça ao tesouro tão complexa tem uma solução clichê e óbvia — mas gosto de pensar que o que torna O Esquema Fenício um filme digno de ser assistido não é seu conceito, mas sim a jornada. Uma pena que as etapas mais interessantes não tiveram tempo de respirar. Talvez esse seja o paradoxo de Anderson: criar filmes sobre humanidade que às vezes esquecem de ser humanos.