Crítica de filme

O Grito

Publicado 5 anos atrás

Novo capítulo da franquia se entrega aos vícios do passado sem modernizar sua história.

No começo do século XXI, Hollywood descobriu os filmes de terror asiáticos e deu início a uma leva de remakes de sucesso, como O Chamado e O Grito. Depois das inevitáveis continuações, essa fase foi acabar morrendo em lançamentos direto para home video anos mais tarde. Mas, tal qual os monstros criados pelo gênero, a franquia de O Grito volta das profundezas do inferno para mais uma chance nos cinemas.

Misto de continuação/remake/reboot, a melhor definição para o que ele é parece ser mesmo “quem se importa?”. Para os fãs (existem?) da série, ele se passa entre o primeiro e o segundo longa, fazendo sutis alusões ao filme original – nada que vá alienar algum espectador que nunca ouviu falar da série. A própria franquia nunca fez tanto sucesso quanto seu irmão sobrenatural O Chamado, o que nos leva a crer que a decisão de se fazer outro filme tende muito mais a completa falta de criatividade do estúdio do que para um clamor popular por mais um capítulo da saga do fantasma que não lava o cabelo.

Desta vez, acompanhamos a história da jovem Detetive Muldoon, que acaba de chegar em uma pequena cidade na Pensilvânia com seu filho logo após perder o marido para um câncer. Pouco depois, um corpo encontrado na floresta irá levá-la a investigar uma casa que seu novo parceiro, Goodman, acredita estar amaldiçoada. Ao longo da investigação, somos levados a acompanhar também a história daqueles que lá moraram.

Assim como no filme original, a história é dividida em três linhas temporais diferentes, todas lidando com a maldição trazida do Japão pela primeira moradora da casa 44 na rua Reyburn. A escolha de apresentar essas linhas temporais fora da sua ordem cronológica representa um dos maiores problemas do longa. Além de não ser nenhuma novidade dentro da própria série, ela tenta criar um suspense a partir de histórias que de certa forma sabemos como terminam. O diretor e roteirista Nicolas Pesce parece acomodado em trilhar os mesmos passos dos filmes anteriores, sem nada a acrescentar na mitologia da franquia e muito menos na forma de desenvolver sua narrativa. Seguem os óbvios jump scares, em que fantasmas pulam das sombras nos espaços óbvios nos quadros filmados pelo diretor.

Caso estes fossem os únicos problemas do longa, esse novo O Grito poderia facilmente passar batido como um filme para se assistir com amigos que se assustam fácil. No entanto, Pesce parece ter se empenhado em criar os personagens mais estúpidos e unidimensionais do gênero de terror. Exemplos abundam, mas salta aos olhos a cena em que um homem, acuado dentro de um armário tentando não chamar atenção dos fantasmas da casa, deixa seu celular tocar ao menos três vezes antes de atendê-lo calmamente. Sem falar na apresentação de elementos que aparecem uma vez na trama para cumprir sua função e nunca mais voltam, como o cachorro da protagonista que possui uma cena e nunca mais é visto. O próprio filme parece chamar atenção para esse problema quando, por volta de uma hora de filme, um dos policiais pergunta à protagonista se ela não tinha um filho, que havia aparecido em apenas uma cena no início do longa e só irá ter alguma importância no fraco clímax da história.

É difícil de acreditar que atores como John Cho, de um dos melhores filmes de 2018, Buscando…, Betty Gilpin, excelente na série Glow, da Netflix, mas aqui relegada a um personagem cuja maior característica é chorar o tempo todo, e Lin Shaye, que praticamente tem sua própria franquia em Sobrenatural, tenham aceitado participar dessa verdadeira zona cinematográfica.

Errando até no gore, em uma cena constrangedora de um corpo caindo de uma escadaria, O Grito de 2020 poderia ter se beneficiado de um rebranding aqui no Brasil, alterando a tradução do título original para um termo mais fiel e apropriado para este longa: Ranço.

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País: EUA | Canadá
Idioma: Inglês

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