Há um certo fascínio pelo modo como o terror consegue manipular nossos sentimentos ao ponto de instigar nossa percepção pelo que está ao redor, à espreita. Se há algo mais aterrorizante do que saber aquilo que te persegue, é não ter a menor ideia do que está te perseguindo. O ano de 2023 pode ter sido “fraco” para o gênero, mas um deles está acima da média e está chegando agora aos cinemas brasileiros: o argentino O Mal que Nos Habita.
Em uma pequena cidade rural, dois irmãos correm contra o tempo para salvarem a família de uma infestação demoníaca, mas conforme os eventos diabólicos vão acontecendo, ambos começam a perceber que talvez seja tarde demais para fazerem alguma coisa.
Desde os minutos iniciais, é criada uma atmosfera pessimista e quase distópica que se alastra durante todo o longa. Essa foi a opção criativa do diretor e também roteirista Demián Rugna de se esforçar ao máximo para inserir o público junto àquela ambientação ameaçadora e misteriosa que cerca todos os personagens.
Afinal, o que está acontecendo? É um tipo de vírus zumbi? Uma seita misteriosa? O que de fato aconteceu com a sociedade ali retratada? Bom, já adianto que não há muitas respostas. Sim, o filme insere o espectador em um “universo” em que algo já aconteceu, e só resta ao público entender o que houve. Não é muito interpretativo, pelo contrário, alguns diálogos entregam até mais do que o necessário aqui, mas nunca beira a exposição gratuita.
A jornada dos irmãos Pedro e Jimi, interpretados respectivamente por Ezequiel Rodríguez e Demián Salomón, é traçada de forma brutal e chocante, com cenas bem violentas a ponto de causar mal-estar em quem está assistindo. No entanto, diferentemente de outras produções do gênero, o gore escancarado não soa gratuito, e sim como um complemento necessário para a ambientação soturna.
Por outro lado, o roteiro em si já não é um ponto forte da produção. Não por ser ruim, mas apenas básico, sem apresentar muitas nuances em sua rodagem.
Pode-se dizer, assim, que O Mal que Nos Habita impressiona mais pelo que é mostrado do que, de fato, contado. De qualquer forma, ainda é um grande acerto para o gênero do terror, e com um mérito adicional ao se tratar de uma produção do cinema argentino, que deixa vários outros filmes de Hollywood dos últimos anos no chinelo.