Vocês sabem o que é loucura? Não loucura como a dessa pandemia que estamos vivendo agora, mas num nível muito pior? Uma loucura que supera qualquer grau de humanidade e transforma as pessoas literalmente em bestas? Em animais mesmo? É sobre isso que trata O Poço, novo filme espanhol da Netflix que está fazendo a galera pirar por aí.
Que filme maluco. O primeiro longa metragem do diretor Gader Gaztelu-Urrutia é de uma genialidade brutal, visceral mesmo, e caiu como uma luva nos tempos que estamos vivendo. Por mais que a película pareça se revestir de várias metáforas – e ele usa mesmo -, ela é, ao mesmo tempo, muito literal, uma crítica escancarada da sociedade moderna, notadamente do individualismo.
O Poço conta a história de um homem chamado Goreng (Ivan Massagué) que acorda numa sala de concreto com o número 48 escrito na parede e logo se dá conta de que está no poço, uma espécie de prisão. Porém, num contrassenso, ele entrou ali voluntariamente em troca de um certificado. Essa sala possui um buraco no teto, outro no chão e abaixo existem várias outras salas, vários outros níveis iguais àquele em que ele está. Não dá pra ver o fundo.
Junto a Goreng está um senhor que ele não conhece, de nome Trimagasi (Zorion Eguileor), que, aos poucos vai explicando a ele como funciona o sistema do lugar, já que está ali há alguns meses e já passou por vários níveis do poço. E assim, uma vez por dia, desce uma plataforma com as sobras da comida dos níveis superiores, ou seja, quem está no nível 1 tem um um verdadeiro banquete mas quando a plataforma chega no nível 50, por exemplo, já não tem mais nada. Trimagasi explica para Goreng que o nível 48 é um nível bom, mesmo recebendo as sobras de 94 pessoas antes deles – uma vez que em cada nível encontram-se duas pessoas.
Estão percebendo a hierarquia, o sistema vertical em que somente quem está nos níveis superiores come? Mas o mais impressionante nem é isso. O que mais chama a atenção é que cada dupla só fica no mesmo nível por um mês e depois são trocados, ou seja, você nunca sabe onde vai parar amanhã e, mesmo assim, ninguém aprende a racionar, a comer só o estritamente necessário para que então todos pudessem ter sua porção.
E quanto mais descemos os níveis, mais conhecemos o horror dessa realidade distópica que nos está sendo mostrada e até onde o ser humano é capaz de chegar quando colocado numa situação extrema. É preciso ter estômago pra digerir esse longa, tanto metafórica quando literalmente falando. É uma alegoria visceral e assustadora da sociedade, assim como foi Parasita, do diretor Bong Joon Ho.
E tudo tem a ver com comida, até mesmo os nomes dos personagens. Nasi Goreng é um prato da Indonésia que nada mais é do que arroz frito. Outro personagem chama-se Baharat (Emilio Buale), e Baharat é uma mistura de condimentos típica do Oriente Médio. E outra personagem ainda cujo nome é Imoguiri (Antonia San Juan), lembra muito o prato japonês oniguiri, que é um bolinho de arroz.
Ademais, outro detalhe interessantíssimo é que, no momento em que uma pessoa é aceita para entrar no poço, ela pode escolher um objeto para levar para “cela”, e Goreng escolhe um livro: Dom Quixote de La Mancha. Essa história também é presente durante o filme todo e, a primeira semelhança é justamente em relação personagem principal, que parece fisicamente com Dom Quixote.
Mas a maior delas, é que, como todos sabem, o Cavaleiro da Triste Figura é um homem que se perdeu na loucura e nas ilusões, e O Poço faz pensar se a nossa sociedade, o seja, se nós não somos todos como esse cavaleiro do século XVII, vivendo na ilusão da civilidade, quando na verdade, somos iguaizinhos os outros animais quando colocados em uma situação extrema.
Prepara seu estômago para um dos melhores filmes da Netflix.
Respostas de 4
http://www.artenews.com.br/2020/04/filme-o-poco-e-bem-mais-do-que-apenas-assustar.html
Ir para a prisão sem ser obrigado é uma metáfora do escravo voluntário. Está na Dialética do Senhor e do Escravo, de Hegel. Também remete à posição de dívida do neurotico obsessivo.
Tem fatores bíblicos e socio economicos,a parte bíblica são os 7 pecados capitais gula, inveja principalmente,o fator sócio econômico é que quem está no topo sempre vai ser arrogante e nao vai se importar com quem esta abaixo, tanto que ao entrar no poço eles passam por uma entrevista e perguntam qual o prato preferido, e se cada um comece o seu prato preferido todos os andares comeriam,E um lugar q é o céu e o inferno sendo o 0 o céu onde tem a majestosa fartura e o 333 q é o ultimo andar sendo 2 pessoas por andar da 666 ou o inferno,E voltando um pouco no fator bíblico a criança q eles encontram no final é o simbolo da esperança pq as crianças são puras.O filme é uma fábula vc tem q se desligar um pouco das coisas reais e pensar mais na mensagem q é passada a fundo como por exemplo na fábula da lebre e a tartaruga que não se trata apenas de uma corrida saca
O filme mostra o terror do capitalismo. A pirâmide social imposta por este regime infame.
Ótimo para os seguidores do Bozo refletirem.