Crítica de filme

O Rei

Publicado 5 anos atrás

Longa de David Michôd revela, por meio do jovem ator e do contexto de uma das guerras mais famosas da História, o começo do reinado de Henrique V

Recentemente a Netflix lançou em seu catálogo mais um filme de contexto histórico e, já de início, é preciso dizer que com O Rei, de David Michôd, mandou muito bem. Diferente do entediante Legítimo Rei do ano passado, o longa consegue abordar de forma muito competente o tema a que se propôs: mostrar o fim da adolescência e o início do reinado de Henrique V, da Inglaterra, interpretado pelo ator em ascensão Timothée Chalamet.

o rei Timothée Chalamet
Timothée Chalamet como Henrique V em O Rei

 

É início do século XV e, Hal é apenas um jovem comum que só se interessava por mulheres e bebidas. A Guerra dos Cem Anos que acontecia entre seu país e a França não parecia afetar em nada a sua vida. Porém, a morte de seu pai, Henrique IV (Ben Mendelsohn), faz com que ele se veja, de repente, sustentando a coroa de um dos países mais poderosos do mundo. Para marcar essa transição, ele muda a aparência, adotando um corte mais curto e reto. Nesse momento, Chalamet se torna, então, ainda mais jovem do que seus 23 anos de idade.

Desde o começo ficou muito claro que o príncipe e seu pai não se davam bem, a ponto de este último afirmar a seu filho mais velho que ele não herdaria a coroa da Inglaterra. De caráteres opostos, o futuro Henrique V não tinha absolutamente nada da personalidade paranoica e belicosa do velho Henrique IV e do irmão caçula, Tomás, interpretado por Dean-Charles Chapman, que já experimentou a realeza em Game of Thrones, vivendo Tommen Baratheon.

Esse é um dos méritos de O Rei: focar na natureza pacífica e tolerante de Hal, que preferia sacrificar a si mesmo que a seu povo. Há duas cenas em que isso se mostra literalmente: a primeira, na Inglaterra, quando ele interfere na batalha que Tomás estava prestes a travar, oferecendo-se em combate singular em troca de não haver luta entre os soldados; e a segunda, na França, quando ele faz a mesma oferta ao dauphin da França (Robert Pattinson).

O Rei Robert Pattinson
Robert Pattinson como o dauphin da França em O Rei

 

Claro que o desenvolvimento tanto da trama como da História verdadeira não permitiu que a guerra não acontecesse, e Michôd mais uma vez provou seu valor, enchendo a tela com a cena da famosa Batalha de Azincourt. A figuração aqui foi uma das mais realistas dos últimos tempos, com homens em armaduras (que os faziam parecer o home de lata de O Mágico de Oz), a trilha sonora perfeita e a fotografia impecável.

Timothée Chalamet em o rei

Nessa que é uma das cenas mais emblemáticas do longa, o foco é mais direcionado à Henrique, quando ele entra no lamacento campo de batalha, mas quando o plano se abre, dá para sentir muito bem o caos e a confusão da guerra. Mais uma vez fica a dúvida que nós, a geração atual, remoemos a cada vez que um quadro de batalhas antigas é mostrado: como era possível diferenciar um oponente de um aliado?

E Timothée Chalamet estava ali o tempo todo, interpretando ora um adolescente bêbado, ora um rei confuso, ora um negociador, ora um comandante de guerra que faz um discurso de motivação incrível para seu exército temeroso. O porte franzino que o ator emprestou a seu real personagem não impediu que ele vencesse lutas nem que enfrentasse os inimigos.

Timothée Chalamet como Henrique V

Por tudo isso é que se pode dizer que O Rei é uma das melhores produções da Netflix. Não são poucas as cenas marcantes, como a discussão entre Henrique e o dauphin no acampamento, quando o dauphin faz chacota do soberano inglês; o ensinamento de  Charles VI (Thibault de Montalembert), da França, sobre como as guerras são travadas em razão das relações familiares; e finalmente o diálogo de Henrique com Catherine (Lily-Rose Depp), que o faz finalmente abrir os olhos para quem ele é e quem ele quer ser.

O único senão é que a pouca presença de Robert Pattinson. Como bem falado pela mídia desde sua escolha como o novo Batman, Pattinson demonstrou que tem muito talento para mostrar, muito além do vampiro teen que o marcou em Crepúsculo (apesar de que sua caracterização o fez ficar bem parecido com um Volturi!). Seu sotaque francês e a cena em que se apresenta para a batalha são as partes mais cômicas dentro da sobriedade de toda a história.

Compartilhar
o rei poster
País: Reino Unido | Hungria | Austrália
Idioma: Inglês | Francês

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *