Só existe uma coisa que justifique um filme de mais de 150 minutos de duração: uma história boa o bastante para manter a atenção do público até o fim com atores bons o suficiente para segurá-la, o que não é nada fácil de se fazer. Mas Ridley Scott conseguiu realizar esse feito com seu novo longa O Último Duelo (The Last Duel), que chega aos cinemas com quase um ano de atraso em razão da pandemia.
Baseada no livro homônimo escrito por Eric Jager que, por sua vez, tem por base os acontecimentos reais que ocorreram no século XIV, a história narra os eventos que culminaram no último duelo autorizado em solo francês pelo rei Carlos VI entre o cavaleiro Jean de Carrouges (Matt Damon) e o escudeiro Jacques Le Gris (Adam Driver). Antes dois amigos, os combatentes se tornam grandes rivais depois que a mulher de Carrouges, Marguerite (Jodie Comer), acusa Le Gris de tê-la atacado, fato que ele nega veementemente.
Sendo assim, como se pode notar, o longa trata de uma história de bravura e coragem de uma mulher que, em plena era medieval, tem a ousadia de acusar um homem de reputação ilibada, braço direito de um conde poderoso (Pierre D’Alençon, interpretado por Ben Affleck), de cometer uma ato tão hediondo como o estupro, explorando muito bem a fragilidade da justiça do mundo dos homens. Aliás, como muito bem apontando nas linhas do roteiro, “não existe justiça, existe o poder”.
Dessa forma, a decupagem do filme é uma das melhores que já testemunhei, desenvolvendo com maestria os mesmos acontecimentos, mas pela visão de três pessoas diferentes – a do marido, a da mulher agredida e desonrada e a do criminoso inescrupuloso, daí a grande extensão da película. Mas como já referido, o talentoso Scott tinha um elenco de primeira a sua disposição, e que trabalho fizeram Matt Damon, Jodie Comer e Adam Driver! É impressionante ver como cada um enxergava a vida e a sociedade no contexto daquela época em que, na maioria esmagadora das vezes, a mulher (e especialmente a mulher bonita) servia apenas como mais um adorno para alimentar a vaidade masculina. Marguerite foi uma das poucas que resolveu levantar sua voz, o que, paradoxalmente, só aconteceu porque teve o apoio do marido, cuja honra fora manchada por tabela.
E mesmo assim, ainda que um duelo seja o ponto central do enredo, não estamos falando exatamente de um filme de ação medieval, com exércitos, lutas épicas de espadas, maças e lanças. A questão toda está mais na trama que leva à luta final, essa sim, espetacular, um show inesquecível valendo todo o longo tempo de história, quando Damon e Driver se erguem como dois gigantes da cavalaria.
E assim sendo, usando de uma incrível habilidade técnica, com uma paleta de cores esmaecida, mas lindíssima, e um roteiro instigante (além de um Matt Damon que, dessa vez, não faz papel de galã, muito pelo contrário), fomos presenteados com mais uma bela obra cinematográfica. O Último Duelo é daqueles filmes que, mesmo que não entre em sua lista de preferidos, fica na memória, marcado a ferro e fogo.