Depois de 36 anos, a tão aguardada sequência de Os Fantasmas se Divertem chega às telonas, nos convidando a revisitar as desventuras da família Deetz. Delia (Catherine O’Hara), Lydia (Winona Ryder) e a nova filha rebelde, Astrid (Jenna Ortega), voltam para casa em Winter River depois da trágica morte do patriarca da família. É então que o demônio interdimensional Beetlejuice (Michael Keaton) encontra a oportunidade de assombrar a vida de Lydia mais uma vez. Quando sua filha acidentalmente abre o portal para o pós-morte, ela é obrigada a recorrer novamente à ajuda de Beetlejuice.
Há alguns anos, parecia impossível para Tim Burton tirar esse projeto do papel, já que ele não conseguia chegar a um acordo com o elenco original, e vários rascunhos de uma potencial sequência foram descartados pelo estúdio. No entanto, uma coisa sempre foi certa: a popularidade de Beetlejuice. Contudo, em se tratando de uma sequência com um intervalo de tempo tão grande, fica a pergunta: o investimento realmente vale a pena? Quem vive imerso na cultura pop sabe que a coisa mais fácil do mundo é apostar na nostalgia e criar remakes caça-níqueis. Mas, neste caso, a presença de Michael Keaton era indispensável. Só ele consegue emular a energia caótica do fantasma nojento e imprevisível.
Mas embora a nostalgia esteja muito presente, essa nova obra é um projeto mais dinâmico. Enquanto Barbara (Geena Davis) e Adam (Alec Baldwin) lidavam com questões existenciais e tinham poucos problemas para resolver a fim de encarar a pós vida de forma pacífica, Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice apresenta um universo expansivo, com mais obstáculos e personagens.
Revendo o primeiro filme, ouso dizer que o achei entediante em alguns momentos e a história é bem simples. Porém, o que torna o universo de Burton especial são os efeitos práticos e a criatividade em retratar a morte de uma forma divertida e macabra, sem ocultar a seriedade. Agora, focando no presente, esses elementos não foram esquecidos. Os recursos de CGI foram usados em momentos pontuais, e a maquiagem estava mais incrível do que nunca. É lamentável quando projetos poderiam ir além, mas resolvem baratear filmes com potencial para agradar os executivos, tudo em nome do lucro.
O que me deixou satisfeita com esse filme, no entanto, foi como Tim Burton conseguiu sair de seu estado institucionalizado e genérico de Hollywood para criar uma nova história com rumos inesperados. Seus últimos projetos careciam de inspiração, ao ponto de gerar pena. Julguei que o cineasta não iria recuperar seu juice tão cedo, mas, para meu alívio, Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice tem alma!
Entre as várias cadeias de eventos, vale destacar a trama que une Astrid e Jeremy. A filha de Lydia tem o mesmo espírito blasé que a mãe tinha quando era jovem, mas a personagem de Jenna Ortega consegue ser um pouquinho mais insuportável. Isso não ajudou muito a atriz, que já possui uma profundidade bem rasa de atuação, em grande parte devido à zona de conforto na qual ela se mantém. Ainda assim, sua personagem teve uma boa evolução, e as encrencas em que se meteu trouxeram surpresas e perigos bem estabelecidos.
Dos novos personagens, a que mais despertou minhas expectativas foi Delores, ex-mulher de Beetlejuice, vivida por Monica Bellucci. Por venerar essa mulher, me dá um amargo na boca toda vez que penso que a melhor cena dela foi narrada pelo Beetlejuice. Ela foi apresentada causando estrago no universo dos mortos e fiquei louca para ver a dinâmica dela com o ex-marido, esperando que ela fizesse de sua existência um inferno. Mas a decepção veio a galope, porque ela apenas vagou, colocando o medo à distância. Quando, enfim, teríamos o confronto, já era tarde, já que o enredo foi obrigado a oferecer uma conclusão anticlimática para a personagem. Acredito que várias cenas aleatórias poderiam ser cortadas para investir na ameaça que ela representava.
Agora, quem não perdeu a mão foi Michael Keaton. Não parece que tanto tempo se passou para o ator. Beetlejuice segue afiado, hilário e mais traiçoeiro do que nunca, o que me faz questionar por que ele não está comandando o pós-vida. Ele faz de tudo, e, graças aos efeitos práticos, à direção de arte e à maquiagem, seus momentos ganham mais dimensão e riqueza narrativa. Eu não me importaria de ver mais uma empreitada protagonizada por Keaton. Se já tivemos uma animação focada no Besouro Suco, por que não mais um filme?
Não diria que Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice é melhor que seu antecessor ou igual em qualidade; é diferente. São projetos com propostas distintas, mas que alcançam o mesmo objetivo: entreter. As novas gerações serão bem alimentadas, e os saudosistas terão a nostalgia que buscam com um toque de criatividade. Se tudo der certo, espero que isso motive Burton a voltar às suas raízes e colocar substância em seus futuros projetos.