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‘Parasita’: Melhor filme do ano finalmente estreia no Brasil | Crítica

Publicado 5 anos atrás

O aclamado diretor Martin Scorsese recentemente publicou um artigo no The New York Times onde explica o porquê de ter dito que os filmes da Marvel, para ele, não podem ser considerados “cinema”:

Para mim… cinema é sobre revelação — revelação estética, emocional e espiritual. É sobre personagens — a complexidade das pessoas e suas naturezas contraditórias e às vezes paradoxais, a forma como machucam e amam um ao outro e que subitamente encaram a si mesmos… É sobre confrontar o inesperado na tela e na vida nela dramatizada e interpretada, e aumentar o sentido do que é possível na forma da arte.

É exatamente isto que faz Parasita, vencedor da Palma de Ouro em Cannes este ano e filme mais recente de Bong Joon-ho (Expresso do Amanhã, Okja). O diretor de um dos melhores filmes dos anos 2000 (Memórias de um Assassino) firma cada vez mais seu nome no panteão dos grandes diretores da história do cinema com um longa desafiador e hipnotizante.

 

Parasita é um filme que consegue a proeza de ser acessível mesmo sendo extremamente complexo em seu desenvolvimento. Por mais que possua uma mensagem clara e até um tanto simples (o problema da desigualdade social e suas consequências), é na forma como isso é apresentado que o filme brilha. Transitando entre gêneros que a princípio não dialogariam, Bong Joon-ho constrói uma tragicomédia da condição humana nos tempos de hoje.

Apresentada como uma família pobre que vive de dobrar caixas de pizza e roubar wi-fi de estabelecimentos alheios enquanto vivem em um porão com uma pequena janela para o mundo, os Kim são a parte do mundo que é (quase que literalmente) varrida para debaixo do tapete. Eis que surge a oportunidade do filho Ki-woo (Woo-sik Choi) assumir as aulas de inglês para uma aluna rica graças a um amigo que precisa viajar. Ao chegar na primeira aula e se deparar com a opulência da família Park, Ki-woo decide engendrar um plano para que toda a família consiga ser empregada pelos Park e tirá-los da miséria. E assim, em cenas dignas dos melhores filmes de assalto, um a um consegue seu lugar dentro da casa dos Park.

classe social alta

Nesta primeira hora, Bong Joon-ho nos leva a crer que veremos um filme divertido e leve. Da trilha aos movimentos de câmera, passando pelas interpretações, tudo remete às clássicas comédias de costumes, fazendo graça dos ricos que incluem frases em inglês nas suas conversas diárias e se gabam de importarem tudo dos EUA e dos pobres que usam de artimanhas e mentiras para alcançarem seus objetivos, em representações quase que inocentes dos personagens.

A fotografia e a direção de arte são hábeis em nos mostrar a diferença dos mundos das duas famílias de classes distintas. Enquanto a vista da claustrofóbica casa dos Kim dá para a rua e, eventualmente, para um bêbado que urina em um poste, a vista da enorme janela dos Park dá para um jardim onde a luz solar é abundante e que os isola dos problemas da cidade. É tocante o momento em que enquanto todos os membros da família pobre aproveitam a casa vazia de seus empregadores, Ki-woo decide ler no jardim, aproveitando seu lugar ao sol que nunca entra em sua casa.

jardim

É no segundo ato, no entanto, que Bong puxa o tapete de seus espectadores incautos e transforma sua história em um verdadeiro filme de terror a medida que adentramos os corredores estreitos do porão secreto onde a antiga governanta escondia o marido por anos dos seus empregadores (fato que já se anunciava quando o Sr. Park comenta, casualmente, que ela “comia por dois”). As condições sub-humanas em que ele vive por ter que se esconder de agiotas vai nos mostrando o quão cruel é a sociedade que vivemos e vai desvelando a real natureza do Sr. e da Sra. Park. Antes visto como “gentis” pelo patriarca da família Kim (“eu também seria gentil se fosse rica”, retruca a mãe), os Park não hesitam em destilar seu veneno contra os menos favorecidos quando estão sozinhos, criticando o cheiro das pessoas que pegam o metrô (mais uma metáfora ao que fica “debaixo do solo”, referência também da família Kim e do marido da governanta que moram em porões) ou comentando que um temporal que desalojou pelo menos uma centena de pessoas tinha sido uma “benção”.”

Isto leva ao clímax do terceiro ato, onde parasita e parasitado se enfrentam em uma festa de aniversário infantil. A única diferença é que agora sabemos claramente quem é quem.

Martin Scorsese deve ter aprovado.

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132 min min

País: Coréia do Sul

Elenco: .Kang-ho Song, Sun-kyun Lee, Yeo-jeong Jo

Idioma: Coreano, Inglês

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