Crítica de filme

Parthenope: Os Amores de Nápoles

Publicado 3 semanas atrás
Nota do(a) autor(a): 2

Parthenope é uma obra que apresenta um senso crítico interessante, evidenciando uma sociedade mascarada e carregada de superficialidades. Já adianto que, independentemente de sua avaliação ser positiva ou negativa, dificilmente você terminará o filme sem desenvolver algum tipo de reflexão, nem que seja para criticá-lo ou apenas para ocupar sua mente sem um propósito definido.

O filme se desenrola em torno da vida de Parthenope (Celeste Dalla Porta), uma jovem que vive na esplêndida cidade de Nápoles com sua família abastada. O foco do roteiro é transformá-la em uma personagem digna de todo o estrelato do protagonismo, fazendo com que os outros — os coadjuvantes — sirvam como frágeis suportes para sustentar a narrativa daquela que carrega o nome do filme.

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A jovem Parthenope é destemida, intelectual e, de certo modo, rebelde. Em suas aventuras — muitas delas na companhia de seu irmão Raimondo (Daniele Rienzo), com quem mantém uma relação um tanto misterioso —, ela busca uma conexão profunda com a sociedade.  Aliás, nada a encanta mais do que a complexidade, as emoções íntimas e a intelectualidade, pois Parthenope se alimenta do interior, e a única coisa que desperta seu verdadeiro interesse é, justamente, o interessante.

A beleza da protagonista é tão exagerada quanto a maneira como o enredo busca mostrá-la ao público, causando uma sensação de desconforto e uma falta de sutileza gritante. A todo momento, as lentes captam personagens secundários rendidos a qualquer movimento de Parthenope, como se o autor duvidasse da capacidade do espectador de perceber aquilo que está claramente exposto em tela.

Seus amores — ou pequenas paixões — são fragmentos desse retrato, e é com base neles que a narrativa se desenrola, buscando entregar profundidade nessas relações, mas falhando em cada uma delas. Talvez a única exceção seja o vínculo de admiração, que em certo momento assume um tom paternal, entre a protagonista e seu professor universitário Devoto Marotta (Silvio Orlando), apresentando algumas trocas genuinamente envolventes que, ai sim, vão ao encontro daquilo que o filme tenta transmitir: o amor de Parthenope pelo interessante. De resto, pelo menos em minha avaliação, são apenas conexões vazias e pouco exploradas, ironicamente o oposto do objetivo do longa. Alguns desses momentos parecem, de certo modo, totalmente dispensáveis, como se o autor insistisse mais uma vez em esfregar em nossas caras o óbvio já esclarecido em diversas outras cenas.

Se por um lado o filme falha em desenvolver relações profundas entre os personagens, por outro, a fotografia e a direção de arte entregam um verdadeiro espetáculo. Parthenope é um quadro artístico em movimento, e só é possível captar alguma mensagem satisfatória se observarmos com atenção a vivacidade das cores e dos elementos. Assim como no enigma entre a protagonista e seu professor universitário acerca do verdadeiro significado da antropologia, o filme também é sobre “saber ver” — às vezes, até sem sentir absolutamente nada.

Repito: acho difícil o espectador sair da experiência do filme sem ter algo para debater em sua mente, mas acredito que, quanto mais o debate se aprofunda, mais evidente fica o vazio que o filme entrega. Talvez isso explique até alguns pontos da trama, como o fato de Parthenope, uma mulher inteligente, interessante e indiscutivelmente bela, acabar sua jornada sem encontrar o seu verdadeiro amor. Você poderia argumentar que possivelmente esse nunca tenha sido o objetivo da protagonista, mas, a julgar por sua evidente solidão, consigo defender minha tese com mais conforto. Nem só no amor: todos em sua vida são passageiros, como se o vento que balança seus longos cabelos fosse capaz de levar embora também todos os seus relacionamentos. Ou talvez o mar, que levou consigo sua maior paixão, deixando a cicatriz da perda de seu irmão e companheiro, uma marca eterna em seu coração.

Sempre reforço a importância de assistir a um filme, independentemente das críticas, com seu próprio olhar, e no caso de Parthenope, essa necessidade se torna ainda mais evidente. É uma obra que exige atenção para extrair o que tem de melhor: a beleza. Ironicamente, parece até que o filme foi feito como uma crítica a si mesmo. De qualquer forma, sugiro que você vá ao cinema e decida por conta própria se a obra é mais um filme que falhou em transmitir seu objetivo ou se carrega traços de genialidade que, de alguma maneira, conseguiram me escapar por completo.

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Poster - PARTHENOPE

Parthenope

Parthenope
A18
País: França e Itália
Direção: Paolo Sorrentino
Roteiro: Paolo Sorrentino
Elenco: Dario Aita, Celeste Dalla Port, Gary Oldmana, Daniele Rienzo
Idioma: Italiano

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