Março chegou, e com ele mais estreias no streaming da Netflix, ou nesse caso retorno, como é o caso de Prenda-me Se For Capaz.
Quando uma história real é adaptada para o Cinema, é preciso ter um cuidado enorme para sua realização, do contrário acaba se tornando um enredo chato que só serve para dar sono no espectador. A magia da adaptação é não tornar tudo muito verdadeiro, é preciso colocar uma invencionice aqui e ali para dar uma sensação de proximidade com o protagonista, ver o que realmente o motivou em suas decisões.
O projeto ficou nas mãos do lendário Steven Spielberg. Poucos diretores têm a capacidade de storytelling como ele, e qualquer enredo fica interessante quando ele está por detrás, mesmo que a história em questão já seja interessante, como é o caso dessa.
Frank Abagnale Jr. começou a falsificar cheques com apenas 15 anos. Aos 21 já tinha assumido 8 identidades e causado um prejuízo de mais de US$ 2,5 milhões em 26 países. Obviamente ele foi preso por seus crimes e cumpriu uma pena total de treze anos e meio. Foi solto sob a condição de cooperar com as autoridades a encontrar fraudes monetárias e, depois disso, conseguiu outros empregos, mas deu certo mesmo como consultor em bancos. Frank realizava palestras para que os funcionários não fossem enganados por golpistas. Mais tarde fundou a Abagnale & Associates, onde adverte o mundo dos negócios sobre fraudes e organiza palestras e aulas. Abagnale é agora um multimilionário através de sua empresa de consultoria de fraudes e prevenção situada em Tulsa, Oklahoma.
E quem melhor para dar vida a uma das figuras mais procuradas do FBI do que o rosto angelical de Hollywood, Leonardo DiCaprio? Sua competência para a atuação nunca foi questionável e qualquer papel que ele vive consegue entregar uma performance convincente. O que Di Caprio faz na pele de Frank é mais que vender um golpista juvenil, ele encarna todas as fases da vida dele, e a todo o tempo compramos seu crescimentos até o momento em que se torna um adulto com um emprego burocrático.
Inicialmente somos mostrados a todas as dores por baixo da fachada confiante, mas no fim das contas ele era apenas um garoto que queria manter sua família unida e sem dificuldades financeiras. Durante toda a jornada de Frank o espectador torce por ele, especialmente porque seus golpes não afetam pessoas de classe inferior. São as grandes corporações que o interessam e deve ser por isso que foi tão difícil pegá-lo. A forma como ele desenvolve seu esquema o faz passar despercebido para as empresas e, eventualmente, quando ele é pego, fica uma sensação de que isso só aconteceu porque, no fundo, ele quis que acontecesse.
Mas sabe quem Frank não consegue enganar? O veterano agente do FBI Carl Hanratty, interpretado maravilhosamente por Tom Hanks, e mais uma vez somos apresentados a uma performance livre de defeitos. Hanks não é o típico detetive durão, mas é comprometido com seu caso, o que faz o setor de crimes de fraudes soar muito mais interessante do que é. Sua presença impõe respeito por seu perfil sério e que, na maioria das vezes, mantém a calma no meio de uma crise.
É uma pena que seus problemas pessoais sejam pouco explorados, eu não me importaria de ter mais vinte minutos de filme só para que o agente fosse um pouco mais aprofundado. E sim, é possível torcer para que ele não arruine sua carreira depois de ser passado para trás tantas vezes por Frank. Sua bússola moral é uma inspiração para as pessoas que só querem fazer o que é certo. Carl tem um trabalho a cumprir, mas, ao mesmo tempo tem uma preocupação genuína com Frank. No final o espectador quer que os dois se deem bem.
Além dele o elenco está repleto de estrelas, Christopher Walken é o pai de Frank e principal responsável por sua trajetória. Apesar de se importar com o filho, em alguns momentos parece amar mais o brilhantismo de Frank, já que ele próprio não conseguiu realizar metade do que o rapaz conseguiu. Amy Adams tem uma participação pequena, mas desde sempre mostra sua competência como atriz.
Porém, mais do que as atuações, o que torna o filme brilhante é mesmo a direção de Spielberg unida a trilha sonora de John Williams, que dão o tom de empolgação da trama. Apesar de Frank não ser exatamente um criminoso perigoso, o ritmo do jazz colabora para que a caçada a ele seja ainda mais empolgante em pleno anos 60.