Ao concluir Projeto Flórida, produção de Sean Baker muito se passa na cabeça do telespectador, pois dependendo do gosto do indivíduo, o filme pode ser brilhante ou tedioso. Essa característica está presente na maioria, senão em todos os filmes independentes. Ao abrir a cabeça para imergir no ambiente apresentado, não é difícil começar a refletir sobre mensagem que o filme passa com tanta clareza: a realidade dos americanos que não é mostrada em Hollywood. E por que eles não são mostrados? Porque ninguém liga para a realidade cruel – as pessoas vão ao cinema e assistem filmes para escapar das dificuldades. Quando o público em massa se depara com um filme dessa natureza, a primeira reação será: ”que droga de filme”, e a mesma é proveniente daquela que ele presencia em sua rotina, mas não se importa.
Projeto Flórida gira em torno do Magic Castle, irônico nome dado ao motel barato nos arredores dos parques temáticos da Disney. O local é habitado por uma variedade de pessoas e administrado por Bobby, (Willem Dafoe) que tenta manter a ordem no estabelecimento, mas, ainda assim, faz vista grossa para algumas atitudes dos moradores. O gerente demonstra empatia pela situação precária de alguns deles e se esforça para fazer um bom trabalho.
A história é centrada em uma dessas moradoras, Moonee (Brooklynn Kimberly Prince), uma criança de 6 anos que vive com a mãe, Halley (Bria Vinaite). A menina passa o verão criando confusões com seus amigos e tirando a paz dos hóspedes. Inicialmente é difícil não ficar com antipatia desse grupo de crianças, mas após ver as circunstâncias em que elas vivem, todas as suas atitudes tornam-se compreensíveis, embora não justificáveis.
Cada um dos atores mirins consegue entregar performances de cair o queixo. Para quem pensa que é fácil para uma criança agir como uma, está completamente enganado. Brooklynn mostra um talento surreal para uma menina tão nova e Baker sabe muito bem narrar a trama através dela de maneira convincente o bastante para gerar múltiplos sentimentos na audiência. O diretor retrata com exatidão a inocência de uma infância cercada de perigos e influências negativas. A fotografia que acompanha os personagens mirins, os figurinos, ou até a falta de trilha sonora – que dá lugar ao som ambiente -, revelam o universo infantil do longa. No entanto, são visíveis os momentos de solidão que os personagens vivenciam.
Único nome de peso no elenco, Willem Dafoe está completamente a vontade no projeto – não há nada que esse homem não consiga fazer com maestria. Seu personagem não demanda momentos dramáticos ou sequer marcantes, mas o sentimento que ele consegue transmitir como um mero gerente de um motel de beira de estrada revela seu profissionalismo. É isso que mostra a competência de um ator, entregar o que é pedido sem parecer estrela de uma história que não é necessariamente sobre ele.
Bria fecha o trio de destaque – sua performance é crua e real de uma mãe completamente inconsequente. Halley é aquela mulher desesperada que não tem um emprego estável ou estrutura para a maternidade. Ela tira sua renda de bicos e pequenos golpes. Sua forma de educar é no mínimo questionável, mas com certeza vem do mundo que ela conhece. Ainda assim, faz de tudo para que nada falte a filha, demonstrando amor genuíno por Moonee.
O roteiro de Baker e Chris Bergoch não joga na sua cara um filme de conscientização social, ele vai marinando esse sentimento aos poucos ao simplesmente mostrar um verão na rotina de um motel de beira de estrada característico dos Estados Unidos. Os parques da Disney mal são mencionados, e quando são, o espectador fica com aquela pulga atrás da orelha, se perguntando qual o papel deles no filme, ou o porquê da sua ausência. Projeto Flórida é para aqueles com sensibilidade aguçada, pois não é um filme cativante, é um filme real.
Atualmente ele está disponível no Amazon Prime Video, bora conferir?
Uma resposta
Esse filme é MARAVILHOSO ! Me emocionou muito. Pra mim, brilhante !