Crítica de filme

Querência

Publicado 4 anos atrás

Querência é uma palavra utilizada em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul que significa “local onde se nasceu, criou ou se acostumou a viver”. Em Querência (2019), de Helvécio Marins Jr., o significado dessa palavra é o que move o filme, já que a narrativa se desenvolve a partir de Marcelo (Marcelo di Souza), um peão que resolve ir embora da região rural de Unaí após ter sido vítima do maior assalto de gados da região.

O filme é contaminado pela despedida melancólica de Marcelo do lugar onde nasceu e viveu por toda a sua vida. Esse sentimento é mostrado pelas escolhas estéticas de Querência, em que há uma dilatação do tempo dos planos que estica os pequenos momentos do dia-a-dia de Marcelo. A câmera está sempre estática e, em alguns momentos, acompanha lentamente o movimento dos personagens.

Querência trio

Em alguns momentos, Helvécio Marins Jr. escolhe, durante os diálogos dos personagens, filmar o espaço onde essa conversa está acontecendo, ao invés de planos de quem participa da ação da cena. Ao fazer isso, o espaço ganha uma grande importância para a narrativa, mostrando ao espectador a relevância desse dele para o protagonista do filme. Essa escolha, aliada a fotografia de Arauco Hernández Holz, produz imagens deslumbrantes da região rural de Minas Gerais.

Além disso, há outros pontos positivos de Querência: o arco dramático de Marcelo e a representação do homem do campo. Apesar do filme ser bastante fragmentado – em que não temos noção de quanto tempo se passa durante a narrativa -, o protagonista possui um ótimo desenvolvimento. Marcelo inicia como um homem comum que trabalha em uma fazenda e aos poucos é apresentado o que ele realmente gosta, que é ser locutor de rodeio.

Esse desenvolvimento também desmistifica o estereótipo do homem sertanejo e os apresenta de maneira complexa. Essas pessoas estão por dentro do que está acontecendo no país, possuem grande sensibilidade, já que pensam e fazem um poema sobre uma injustiça que ocorreu na região em que moram. Ademais, há uma desconstrução desse homem bruto do campo, como quando Marcelo pede a opinião sobre qual cinto usar.

Querência termina com um desfile de carros de bois em uma cidade e é como se fosse a chegada de Marcelo a esse novo espaço. Essa sequência e os créditos finais são marcadas pelo som melancólico do carro de bois e como Hugo Carvana narra no desfecho de Carro de Bois (1974) de Humberto Mauro: “O seu canto é apenas um eco, uma saudade no infinito”.

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Querência poster maior
País: Brasil
Idioma: Português

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