Red: Crescer é uma Fera (Turning Red), nova animação da Disney/Pixar estreou nesta sexta-feira (11) no Disney+. Na estória, Mei Lee, uma adolescente de 13 anos sente as mudanças do fim da infância e precisa lidar com o dilema de continuar sendo a filha perfeita ou seguir os instintos rebeldes da idade.
Os filmes da Pixar costumam gerar bastante expectativa, afinal, a gradativa evolução dos detalhes de produção das animações imerge cada vez mais quem os assiste, e com Red: Crescer é uma Fera não foi diferente. Esse é um ponto bem chamativo logo nos primeiros minutos do filme que, ambientado nos anos 2000, vem carregado de um toque de nostalgia e mostra que alguns assuntos são atemporais.
Questões como a adolescência e o amadurecimento são clássicos das animações do estúdio. Vez ou outra esses assuntos são abordados, sempre de maneira sensível e didática, o que torna a experiência interessante não só para o público infantil, mas traz lições que acabam atingindo o público adulto de forma ainda mais potente.
A estória nos conta que Mei é uma jovem promissora e animada, que apesar de ser considerada “nerd”, se mantém sempre de bom humor e feliz em seus ciclos de amizade. Ela é muito fã de uma boy band (os 4*Town) e com suas amigas, sonha em assistir a um show deles. Contudo, é dentro de casa que conhecemos a outra face de toda essa “liberdade”. Sua mãe, Ming Lee (originalmente dublada por Sandra Oh) tem uma atitude muito protetora em relação a ela, o que é muito interessante de se analisar, afinal, em nenhum momento ela foi colocada como vilanesca. Pelo contrário, Mei se sente na obrigação de agradá-la como forma de agradecimento e respeito.
O aprofundamento da relação familiar, aliás, acaba gerando questionamentos sobre a manipulação velada na obediência que os pais impõem aos filhos, que sentem a pressão de seguir a expectativa criada pela família. Inconscientemente, os progenitores usam de sua autoridade para manter seus filhos dentro dessa expectativa.
Sendo assim, na trama, Mei vai se fechando nesse ciclo ao mesmo tempo que a puberdade chega e os problemas/desejos comuns da adolescência começam a entrar em conflito com toda dinâmica familiar. Ming Lee pressiona Mei enquanto tenta mantê-la longe dos sentimentos comuns da adolescência, julgando suas amigas e tratando-a como perfeita demais para alguns tipos de relações. É bem interessante observar como a mãe de Mei não percebe o quanto essa proteção tira a liberdade da filha de se expressar, dizer o que pensa e assumir responsabilidades. Vemos aqui uma relação bem comum de pais e filhos superprotegidos, o que torna a realidade transformada em animação tão potente.
É a partir deste ponto que o arco da trama nos revela a criatura gigantesca (um panda vermelho) na qual Mei se transformou quando não conseguiu controlar suas emoções mais impulsivas. No primeiro momento, a garota tenta esconder o fato de sua mãe, exatamente pelo medo de ter falhado, porém, quando Ming descobre o que aconteceu, conta para a filha que a criatura faz parte das gerações de mulheres de sua família e que a melhor forma de acabar com isso é controlar a fera dentro de si até a lua vermelha.
Novamente questão de controlar quem somos vem à tona e o filme nos mostra o quão terrível isso pode ser, quando essa fera dentro de nós retorna depois de a termos escondido para suprir as vontades e os sonhos que outras pessoas depositaram em nós – e como esse ciclo precisa ser encerrado.
A mensagem da animação é contada por meio de muita fofura e sensibilidade, principalmente quando o assunto tratado é sobre a transição tão complicada e intensa da infância para adolescência, o que faz Red: Crescer é uma Fera valer a pena de ser assistido. O tom animador da animação não cria momentos de dramas muito intensos na maior parte do tempo, mas ainda assim, acerta na forma de nos mostrar que nossa fera interior não precisa ficar na sombra e que, aceitando quem somos e ignorando qualquer expectativa, podemos viver mais felizes.
A Pixar também acerta mais uma vez quando implanta mais etnias dentro de seu leque, no caso a China, e insere, depois de tanto tempo, uma protagonista feminina! Também acerta ao trazer assuntos profundos como os laços familiares que costumamos não enxergar no dia a dia, uma mensagem que serve à todos.
Por fim, vale a pena assistir mesmo que não haja adolescentes em seu ciclo. A diversão é garantida!