Pode parecer estranho, mas depressão e ansiedade são distúrbios de saúde que ainda são vistos com banalidade. Na verdade, qualquer transtorno mental é subestimado e considerado tabu aos olhos da sociedade, como se as pessoas não acreditassem que esses problemas afetam a forma de viver de outras pessoas, especialmente se elas são privilegiadas, como é o caso do protagonista de Se Enlouquecer, Não se Apaixone. Craig (Keir Gilchrist) é um aluno do ensino médio que faz parte de um programa acadêmico para jovens talentosos. Quando ele percebe que é suicida, decide buscar ajuda e se interna na enfermaria de um hospital. Uma vez dentro da ala psiquiátrica, ele deve ficar por uma semana na companhia de diversos pacientes. É lá que ele conhece Bobby (Zach Galifianakis) e Noelle (Emma Roberts), dois internos que lhe mostram que há mais na vida do que o sofrimento.
Ao contrário de Garota Interrompida, Se Enlouquecer, Não se Apaixone não retrata a doença mental de uma maneira tão dramática, apesar de haver muitas semelhanças entre os protagonistas de cada filme. Nesse caso, o tema é explorado com mais leveza, e apesar de Craig ser um garoto aparentemente introvertido, ele narra com certo humor e ironia a situação que está vivendo. Parte da razão deve ser porque ele não leva a sério a pressão que enfrenta internamente. Para resumir, quando ele chega à enfermaria, só quer uma solução mágica para não se sentir ansioso.
No entanto, mesmo estudando em uma boa escola e possuindo uma família amorosa e bons amigos, ele não está livre de sofrer com o cenário em que foi inserido – situação em que muitas pessoas se identificam: a eterna luta pessoal de exceder as expectativas dos outros para ter uma vida que é aceita pela sociedade.
Dessa forma, montar um currículo acadêmico extenso, ir para a faculdade, arrumar um bom emprego e se casar são possibilidades que traçam uma linha reta na vida da pessoa, como se não houvessem outras maneiras de conduzir a vida sem se tornar um pária. É fácil estar nessa posição, sem a escolha de querer alguma coisa e correr atrás sem parecer irresponsável, e, todos esses elementos são revelados com graciosidade no filme.
Craig não está bem, mas é exposto a outras pessoas que estão piores e isso coloca as coisas em perspectiva, mas em momento nenhum a dor dele é negligenciada. As cenas de terapia que ele tem com a Dra. Minerva (Viola Davis) mostram que o que ele sente é totalmente válido e que ele merece um tratamento e a oportunidade de se reinventar. Além do mais, qualquer pessoa que tenha Viola Davis como psiquiatra pode enfrentar qualquer trauma.
A beleza do enredo está na falta de exagero. Sim, ele bebe da fonte de outros filmes com a mesma temática, mas ele tem voz própria, pois gera uma reflexão saudável no espectador ao invés de utilizar meios catárticos para conduzir seus personagens. Ele é capaz de arrancar boas risadas em momentos em que elas podem ser inseridas, tornando esse um “feel good movie”.
O final da história abre possibilidades para os personagens, não permitindo ao espectador pensar que problemas psicológicos impeçam alguém de ter uma vida plena. A doença existe, mas ela pode ser combatida, especialmente se levada a sério. Destaque especial para Zach Galifianakis que, mesmo sendo um ator da comédia, mostrou aqui seu potencial dramático com um personagem misterioso e quebrado, que mesmo assim encontra forças para ser um mentor para o personagem de Keir Gilchrist.
Para concluir, Se Enlouquecer, Não se Apaixone é um filme adorável que destaca o tema da doença mental de uma maneira sensível e inteligente. Em razão de o cenário ser bastante limitado — já que a maior parte da ação ocorre no hospital — pode parecer que a história é devagar, porém o roteiro é cômico e perspicaz, enquanto a direção e o trabalho de câmera são bastante agradáveis. Se você busca assistir a um ótimo filme que toca o coração com profundidade, basta conferi-lo no catálogo da Netflix.