Segredos é um filme brasileiro dirigido e estrelado por Emiliano Ruschel. A trama acompanha o desenrolar de um casamento em crise, focando na turbulenta relação entre o diplomata suíço Noah (Ruschel) e sua esposa Naomi (Danni Suzuki). O casal está envolto em segredos e complicações, transformando a narrativa em um misto de drama e thriller psicológico.
É importante lembrar que um filme não precisa ser movimentado ou cheio de ação. O Desprezo (Le Mépris), de Jean-Luc Godard, é um excelente exemplo disso; é intimista e foca na perspectiva de um casal em crise, orbitando constantemente as ácidas ações e palavras de dois personagens cada vez mais afastados. Da mesma forma, História de um Casamento (Marriage Story), de Noah Baumbach, também aborda um tema semelhante em um ambiente familiar caótico.
Mas por que mencionar esses filmes? Todas as películas citadas possuem a temática da falência de uma relação romântica. Além disso, considera-se que os três diretores são auteurs e exercem controle criativo sobre suas histórias. No entanto, seria injusto, por outro lado, comparar Emiliano Ruschel com Baumbach e, ainda mais, com Godard. Aqui, faltou algo que realmente nos envolvesse com a obra, tornando-a marcante como as anteriores, o que poderia ser plenamente possível para um cineasta em início de carreira.
Os defeitos que impedem Segredos de avançar a um patamar cinematográfico superior estão, em grande parte, na tentativa de emular o que funciona tão bem em outras obras. Imagino que, pelo menos uma vez na vida, você que lê este texto já se deparou com o meme do personagem de Adam Driver se descabelando e socando a parede em um diálogo acalorado com a personagem de Scarlett Johansson. Essas narrativas sobre sentimentos ambíguos costumam apresentar diálogos e cenas impressionantes, algo que falta em Segredos.
E atenção: A deficiência não é devido à falta de diálogos, mas sim à forma como são escritos. Eles soam pesados e excessivamente sérios, resultando em diálogos quase vazios, mais parecendo um recital ou um espetáculo tespiano. O casal Naomi e Noah, que se conheceu em uma aula de poesia em Yale, está intimamente ligado à literatura. Essa conexão, por outro lado, parece não passar de uma justificativa para tentativas de profundidade que, infelizmente, não se concretizam em diálogos realmente impactantes.
Infelizmente, faço aqui duas coisas que odeio: ser repetitivo e criticar de forma mais severa um filme que, em si, possui grande potencial. Afirmo novamente que o simples, quando bem executado, é muito mais significativo do que a criação de uma teia complexa que não é devidamente desenvolvida.
O filme provoca desconforto? Sim! Quando isso acontece a favor da obra, conseguimos nos envolver com os personagens e sentir as dores desse relacionamento que se desfaz aos poucos. Porém, o desconforto predominante vem do quão estranhos são os personagens em suas próprias presenças. Em certos momentos, os protagonistas parecem mais interessados em uma revelação do que em uma grande sacada.
Os problemas com Segredos residem, portanto, principalmente nas decisões de roteiro e direção, que impactam o processo criativo e o desenvolvimento do protagonista, interpretado pelo próprio Ruschel. A maioria dos diálogos é em inglês. Teoricamente, isso faria sentido, dado que é um casal internacional, mas a obra não se alteraria se fosse um casal brasileiro.
A escolha do idioma poderia sugerir uma tentativa de internacionalização do filme. Contudo, em tempos de legendas acessíveis, o uso do inglês macarrônico de Noah soa como uma alternativa questionável. Sem o simples, o filme acaba adquirindo um viés esnobe, algo que certamente não é a intenção de uma obra destinada ao grande público.
É impossível não achar esquisita uma cena em que Naomi desce as escadas, recita uma frase que não parece pertencer a lugar nenhum e volta para onde estava antes. A cena apresenta uma composição visual perfeita. A distância, a postura dos personagens e os ângulos escolhidos comunicam muito mais sobre o que está acontecendo do que um diálogo carregado em um inglês que remete a Dylan Thomas. O simples (que poderia ter sido) é novamente soterrado por um complexo que tenta imitar conversas dinâmicas ao estilo de Le Mépris.
Por fim, há algo que possa fazer você sair de casa para assistir Segredos? Felizmente, sim! A surpreendente atuação de Danni Suzuki consegue nos tocar profundamente, permitindo que compreendamos com mais facilidade seus dilemas e traumas. Apesar de não ter experiência como atriz principal em dramas, ela se mostra muito segura e só não brilha ainda mais por causa dos problemas já mencionados.
Para aqueles que apreciam dramas dessa natureza, vale a pena se deixar levar pela curiosidade. É saudável, no entanto, dosar as expectativas, considerando os momentos complicados que Segredos nos proporciona. Apesar do resultado nem tão agradável, é interessante que o país tenha mais um jovem auteur em ascensão. Produzido pela A2 Filmes, essa obra pode marcar o início de novas produções que busquem inovar nos cinemas locais.