O peso de um cargo pode consumir a razão. No entanto, em tempos de turbulência política, a paranoia tem o poder de destruir até as relações mais íntimas. A Semente do Fruto Sagrado, de Mohammad Rasoulof, explora essa tensão de forma angustiante.
Em meio à crise política de Teerã, Iman (Misagh Zare) assume o cargo de juiz de instrução. A pressão, portanto, começa a afetar seu equilíbrio mental. À medida que os dias passam, ele se vê tomado por uma espiral de desconfiança e paranoia. O desaparecimento de sua arma pessoal agrava ainda mais sua situação. Como resultado, Iman passa a duvidar até de sua própria família, especialmente de sua esposa, Najmeh (Soheila Golestani) e filhas.
A trama segue o protagonista enquanto ele impõe regras rígidas a elas, acreditando que possam estar envolvidas no desaparecimento da arma. Consequentemente, suas ações geram uma tensão crescente entre todos. De fato, a confiança entre os membros da família se desfaz. O comportamento de Iman destrói, pouco a pouco, as relações que ele mais valoriza.
Misagh Zare entrega uma performance intensa e perturbadora como Iman. Seu personagem, assim, luta contra suas próprias escolhas, que têm um impacto devastador em sua vida familiar. Soheila Golestani, como Najmeh, demonstra uma grande carga emocional. Ela tenta, portanto, manter a estabilidade enquanto Iman se afasta da realidade. A química entre os dois torna o conflito ainda mais palpável.
O cenário de Teerã é fundamental para o filme. A cinematografia de Morteza Parsa, ao usar ambientes fechados, aumenta a tensão. De fato, a cidade reflete o estado psicológico de Iman. O espaço, portanto, se torna mais opressor à medida que sua paranoia cresce.
A trama também trata de temas como o abuso de poder e a autoridade. Iman, que deveria buscar justiça, começa a distorcer seu papel. Sua vigilância excessiva destrói sua família. O desaparecimento da arma, por fim, revela segredos ocultos e mostra as consequências de sua desconfiança.
A Semente do Fruto Sagrado questiona, assim, os limites da confiança e o impacto da pressão psicológica. Rasoulof cria uma obra que faz o público refletir sobre os efeitos devastadores da desconfiança em uma família.