Dirigido pelo australiano Kiah Roache-Turner, Sting – Aranha Assassina busca retomar um gênero de terror um tanto esquecido, mas que já teve seus anos de glória: o de animais assassinos (com um leve toque de elementos sobrenaturais ou extraterrestres). Narrativas como essa ganham ainda mais potencial quando combinadas com a tendência dos filmes de terror de colocar crianças como protagonistas, elevando o senso de perigo e inquietação do espectador. Mas o resultado dessa soma é realmente empolgante?
Na trama, acompanhamos a pequena Charlotte (Alyla Browne), uma menina rebelde de 12 anos que vive com sua mãe, Heather (Penelope Mitchell), seu irmão recém-nascido, Liam, e seu padrasto, Ethan (Ryan Corr), zelador do prédio onde moram e aspirante a ilustrador de quadrinhos. Quando Charlotte encontra uma pequena aranha em seu prédio, decide adotá-la como animal de estimação e a mantém em uma jarra. Logo, o bicho começa a crescer em um ritmo monstruoso e desenvolve um apetite insaciável por carne humana.
Quando duas jovens missionárias batem à porta do Sr. Reed, um simples debate sobre fé se transforma em um perturbador jogo psicológico.
A sequência de abertura de Sting funciona muito bem como um curta-metragem isolado. Há um forte domínio na direção de Kiah, que apresenta a situação da personagem — uma idosa com Alzheimer em sua casa —, cria expectativas a partir dos barulhos incomuns, avança para a investigação de um personagem externo e surpreende com um desfecho chocante, seguido de um reinício cíclico.
Talvez, se Sting se resumisse a esse episódio curto, fosse mais elogiado e reconhecido como um curta-metragem eficiente e criativo que explora ao máximo suas limitações de espaço e traz soluções inventivas para os efeitos visuais. Porém, o que acompanhamos ao longo dos 90 minutos seguintes oscila entre altos e baixos.
Os acontecimentos da trama se passam em um prédio em Nova York, uma decisão interessante para conter o horror em um único espaço, mas com possibilidades de explorar os diferentes apartamentos e dinâmicas entre os vizinhos. Há muitos lugares para a aranha assassina se esconder e perseguir as vítimas de formas diversas, à medida que cresce e o perigo aumenta. Esse suspense é transmitido por uma câmera fluida, que explora os espaços sombrios e cria uma atmosfera agoniante.
Charlotte, interpretada por Alyla Browne, consegue ser o destaque do longa, trazendo facetas e emoções diferentes para uma criança rebelde, solitária e carinhosa em determinados momentos. Seu universo único, com gostos peculiares, dá sentido à relação de tutora e “pet” com a aranha Sting. A jovem protagonista cumpre bem o papel de observadora principal no prédio, vigiando os vizinhos pelos dutos de ventilação que conectam os diferentes lares — um paralelo interessante feito na segunda metade do filme, quando o perigo da aranha se instala na trama.
Ryan Corr também está ótimo como um homem frustrado com sua rotina, mas com aspirações artísticas e afeto por sua família. Outro destaque é Helga (Noni Hazlehurst), avó de Charlotte, uma idosa dócil que sofre de Alzheimer.
Os demais personagens coadjuvantes não prendem tanto a atenção, muitas vezes recaindo em ciladas de estereótipos unidimensionais. A montagem de troca de núcleos acaba sendo truncada, e pouco flúida.
O filme intercala duas principais tramas: a relação de Charlotte com seus familiares, sobretudo com seu padrasto Ethan, e o núcleo do terror, que acaba sendo mais interessante e cuidadoso na direção. No primeiro núcleo, as inúmeras tentativas de Ethan e Charlotte de criar um laço paterno ora encantam, ora recaem em frases de efeito genéricas. Já no núcleo do terror, acompanhamos a biologia de Sting, a aranha alienígena, e sua evolução. Quanto mais cresce, mais perigosa se torna para os moradores do prédio.
O longa ainda flerta com riscos e cenas mais chocantes e seu maior mérito está justamente nas cenas de suspense, em que a direção opta por sugestões ao invés de imagens explícitas. O paradeiro de um personagem, a localização e a aparência da aranha assassina, tornam a experiência mais inquietante do que a maioria das mortes em si, que são pouco criativas considerando as possibilidades criadas pela biologia da aranha.
Mas um grande incômodo no filme é a escolha de suas vítimas. É difícil ignorar o desconforto ao perceber que todas pertencem a grupos minoritários, com falas e perfis estereotipados, como a imigrante latina solteira, o nerd asiático, a vizinha idosa ranzinza e o negro que serve de alívio cômico. Não que todos precisem de tramas complexas, mas a redução a estereótipos beira o preconceito.
O filme ainda apresenta uma cena pós-créditos que não adiciona nada à trama, mas funciona como uma piada divertida.
Assim, ao final, Sting – Aranha Assassina se mostra uma obra interessante por buscar a retomada do subgênero de animais assassinos no terror, mas acaba caindo em sua própria teia de estereótipos e vícios, deixando pouco para marcar a memória do público, especialmente em uma época em que o terror está em alta.