The Electric State é a nova megaprodução da Netflix, resultado de uma equação curiosa. O longa marca o novo trabalho dos irmãos Anthony e Joe Russo, conhecidos mundialmente pela direção de alguns filmes da Marvel Studios, como Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato (e confirmados para comandar os próximos dois filmes da equipe de heróis da Marvel). Se isso já não fosse o suficiente para chamar atenção, o orçamento milionário de 320 milhões de dólares e o elenco repleto de rostos conhecidos de Hollywood fazem de The Electric State um dos principais lançamentos do streaming em 2025.
No entanto, o que encontramos ao longo de quase duas horas de duração é uma fantasia ambiciosa que pouco emociona, com personagens desinteressantes e uma trama que não convence o espectador.

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A história se passa em uma realidade alternativa e retrofuturista dos anos 90, na qual robôs conscientes coexistem com os humanos. A protagonista Michelle (Millie Bobby Brown), uma adolescente órfã, recebe a visita de Cosmo, um robô meigo e misterioso que ela acredita estar sendo controlado por Christopher (Woody Norman), seu irmão mais novo, considerado morto. Determinada a descobrir a verdade sobre o irmão, Michelle parte em uma jornada pelo oeste americano, acompanhada, contra sua vontade, pelo contrabandista e andarilho Keats (Chris Pratt) e seu parceiro robô sarcástico, Herman (dublado por Anthony Mackie).
Um dos destaques do longa é a construção de seu universo. O retrofuturismo aplicado aos anos 90 impressiona, e a produção demonstra um trabalho minucioso de VFX na criação dos robôs e equipamentos tecnológicos, sem perder a ambientação nostálgica com carros e outros objetos característicos da década. As texturas e movimentações dos robôs são realistas, tornando a imersão no universo inicial mais palpável. Esse cenário, marcado por uma guerra entre humanos e robôs, por si só já seria rico em possibilidades narrativas.
O problema começa na relação entre Michelle e Christopher. A falta de um contexto sólido sobre sua conexão antes da guerra torna difícil acreditar que esse vínculo seja realmente o motor da narrativa. Somado a isso, a performance antipática de Millie Bobby Brown e a ausência de química entre os personagens resultam em uma estrutura narrativa frágil. Além disso, a ideia de Christopher como um “escolhido” não possui tanto contexto anterior, e sua personalidade não aparenta estar presente quando seu robô é introduzido na narrativa.
Por outro lado, a dupla formada por Chris Pratt e o robô Herman é um dos pontos altos do filme e um alívio em meio às suas inconsistências. Apesar de Pratt estar em modo automático em seus últimos projetos, raramente saindo do arquétipo do Senhor das Estrelas de Guardiões da Galáxia, ele ainda consegue entregar carisma, bons momentos cômicos e até algumas cenas emocionantes – mérito também da química com seu parceiro de tela, dublado por Anthony Mackie.
Outro destaque é o Coronel Bradbury (Giancarlo Esposito). Seu arco, que envolve inicialmente a caça aos robôs e sua posterior aliança com o vilão Ethan Skate (Stanley Tucci), enquanto questiona seus próprios valores e métodos, faz dele um dos poucos personagens com nuances a serem exploradas. Esposito consegue extrair o máximo do material que tem em mãos. Em contrapartida, o vilão de Tucci tenta ser imponente e frio, mas acaba caindo em um maniqueísmo genérico.
O elenco ainda conta com Ke Huy Quan, totalmente desperdiçado em um segmento irrelevante, e Woody Harrelson como Mr. Peanut, líder idealista dos robôs, um dos poucos personagens com maior profundidade na trama.
The Electric State ainda sofre com um problema recorrente nas produções da Marvel, que parece ter sido absorvido pela direção dos irmãos Russo: a inconsistência de tom. O filme tenta explorar a humanização dos robôs, seus sentimentos e dilemas, mas nunca dá peso real a nenhuma “morte” ou destruição. Isso também acontece com alguns personagens humanos, culminando em uma das piores cenas de sacrifício que já presenciei.
Ao final, The Electric State é uma produção decepcionante e um desperdício de recursos. Poucos cineastas recebem financiamento para um projeto tão audacioso, e os irmãos Russo parecem se limitar a antigas fórmulas de seus trabalhos na Marvel, apostando no carisma do elenco para sustentar a narrativa – algo que, neste caso, não funciona. As duas horas de duração impressionam pelo excelente trabalho de pós-produção, mas cansam devido a atuações arrastadas e uma história pouco envolvente. Para um filme que tenta apresentar emoção em figuras artificiais como robôs, ironicamente se apresenta como uma obra artificial por si só.
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