Em 2019, a Fox lançou X-Men: Fênix Negra. Fracasso de crítica e público, o filme levou porrada de todos os lados. Porém, tinha algo minimamente interessante: o roteiro. Simon Kinberg criou uma bela adaptação de uma saga enorme e confusa como de costume nos quadrinhos. Trouxe para realidade fílmica (que ele mesmo não soube, como diretor, lidar) e condensou, em menos de duas horas, esse marco na história da mídia.
Agora, em 2023, o panorama é bem diferente. Nesses quatro anos houve um esgotamento enorme das fórmulas dos “filmes de heróis” e, The Flash, um filme prometido para sair em 2016, parece que ficou por lá mesmo. Se em Fênix Negra existe uma vitória sombria da adaptação de uma complexa saga, aqui, Flashpoint parece diminuído para funcionar única e exclusivamente como truque.
Incrível como um filme já nasce tão tardio. Todos os seus recursos já foram utilizados à exaustão nessa leva de MCU, DCU. Nada é fresco, interessante. A Warner entendeu que esteve atrás da Marvel na construção de um universo e, para compensar sua posição retardatária, juntou todos os recursos que poderia para tentar dar cinco passos à frente. Fracassou miseravelmente.
A tentativa de jogar-nos sem pestanejar na ação e funcionamento da Liga da Justiça é minimamente intrigante, porém, ninguém se importa com esses personagens, nem teme pelas suas vidas, ou sequer se lembra deles. Os filmes da Mulher Maravilha não tiveram a profusão cultural que deveriam, o Batman de Ben Affleck já foi descartado e Superman não chegou nem a ter continuação, mesmo lançado dez anos atrás. Revisitar esse universo é como olhar a fedorenta carcaça de um animal morto há meses.
No supracitado filme da Fênix, Jennifer Lawrence, interpretando Mística, claramente não gostaria de ter participado da produção, mas lá estava. Em The Flash é como se todo o elenco tivesse esse mesmo comportamento. Michael Keaton está com uma preguiça de quem acabou de comer cinco quilos de feijoada no final de semana. A única motivação para participar desse filme foi para garantirem mais algumas dezenas de milhões de dólares. Michael Shannon, interpretando General Zod, soltou uma declaração de que não foi nada satisfatório estar na obra, que os filmes de multiverso são como alguém brincando de boneco.
Só que é como se os bonecos fossem pessimamente renderizados. O filme tem o pior CGI dos últimos tempos. É uma atrocidade sem fim. As corridas de Ezra Miller são tão toscas que fazem aquele famoso clipe do The Rock em Escorpião Rei apresentável. Trazendo, novamente, X-Men, é como se as cenas do Mercúrio fossem a coisa mais abjeta e duradoura possível, como se conseguissem remover cirurgicamente tudo que as torna especiais, o que as faz parecerem frescas e uma grande novidade, e uma inteligência artificial as dirigisse como um piloto automático. O filme todo é tocado por uma necessidade de fazer o investimento de muito tempo funcionar, não há motivação fílmica alguma que justifique as atrocidades que somos apresentados.
Ainda por cima completamente desrespeitoso mostrando o falecido Christopher Reeve só para piscar para o telespectador, mostrando os multiversos. A ridícula e despropositada cena do não-existente Superman de Nicolas Cage… Tudo no filme é vazio, oco, um aceno mercadológico, uma tentativa de não perder dinheiro. As ações inconsequentes do péssimo Ezra Miller ainda deixam um gosto péssimo na boca devido ao seu comportamento recente que, como o personagem, entende que suas ações não possuem peso algum. Ele muda o passado ao seu bel-prazer, cria linhas do tempo, duplica-se, revive sua mãe, salva seu pai, muda os Batmans de sua linha e, no final, nada fica, nada perdura, o filme se dissipa sem deixar marcas. Esse DCU não servirá de nada, um novo filme do Superman já está sendo desenvolvido. E apagará a existência de tudo que The Flash tenta lembrar.