Crítica de filme

Um Completo Desconhecido

Publicado 6 dias atrás
Nota do(a) autor(a): 2

James Mangold é um diretor decepcionante. Seu último filme antes desse, Indiana Jones, é um dos maiores desperdícios não só de personagens, mas de roteiro mesmo. Um dos melhores tratamentos, para uma figura tão antiga e querida, foi completamente subutilizado graças a incapacidade do diretor de ser tão criativo visualmente quanto o que fora proposto no papel. Eu, particularmente, conheço pouco sobre Bob Dylan. Uma biopic parece o lugar certo para se conhecer alguém, supostamente. Mas com Um Completo Desconhecido fica só no campo da suposição mesmo.

O filme faz um trabalho ruim de criação da figura mitológica que conhecemos hoje. E é engraçado porque a obra não foca nisso, mas invariavelmente resvala nessa questão. Como se fosse um aspecto inevitável, porém tratado com vista grossa. Há uma interessante descrição do impacto da fama e a recusa desta, mas que nunca aterrissa tão bem porque a ascensão meteórica é diluída e o filme parece nunca interessado em cuidar das contradições de Dylan. 

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Yorgos Lanthimos soltou a franga nesse projeto que pode ser descrito como um gore de constrangimento, horror e obsessões humanas.

A segunda parte, que conta os anos a partir de 1965, faz o estranho movimento de se tornar a mais comum das biopics, o que é particularmente dissonante com a personalidade metamorfósica do objeto em questão. Tratar de novos terrenos numa carreira querida e consolidada da forma mais “tradicional” possível é com toda certeza do mundo uma escolha.

Os melhores momentos do filme são, invariavelmente, musicais. E é muito bom todo o caminho até chegar em um ponto que se toca uma música, um tipo de construção modorrenta mas positiva, que é “recompensada” com não só grandes faixas, mas todo um ambiente muito cuidadosamente criado para que as interpretações se destaquem.  Do programa de TV, passando pela apresentação na qual Baez o beija, até ao fatídico show em Newport, toda a ambientação, a construção espacial e os movimentos de câmera jogam um jogo de paciência, movendo cuidadosamente as cartas pros seus respectivos lugares até alcançar seu objetivo, aqui de forma frontal, que são bons números musicais. Há um problema que é o quão abruptamente esses momentos terminam e nunca respiram, são cortados quase que imediatamente e, por isso, nunca “grudam” no espectador.

Todo o resto parece pouco focado e despropositado às vezes. O relacionamento de Dylan com Sylvie é um dos pontos mais fracos do filme. Eu sei o que a cara de Elle Fanning quer dizer, eu entendi o ciúme e a desconfiança por parte dela, mas muito mais pelo que a situação grita do que como a cena se articula. Tá lá porque teoricamente aconteceu e o texto propôs isso, não porque as imagens estão necessariamente encenando emoções, mas, apenas, ilustrando-as. 

Uma figura tão extensa, longeva e divisiva como Dylan é realmente complicada de retratar no cinema pelas diversas possibilidades que se apresentam, mas é muita infelicidade que o diretor designado para este projeto tenha muitas das vezes escolhido o mais sem graça dos caminhos.

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um completo desconhecido poster

Um Completo Desconhecido

A Complete Unknown
14
País: EUA
Direção: James Mangold
Roteiro: James Mangold, Jay Cocks, Elijah Wald
Elenco: Timothée Chalamet, Edward Norton, Elle Fanning
Idioma: Inglês

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