O gênero da comédia tem um propósito simples: fazer com que o espectador tenha um momento leve e cheio de alegria. Talvez seja por isso que a maioria dos filmes desse nicho não seja tão ambicioso, pois não há uma pressão de esforço narrativo para te fazer refletir. Ainda assim, o gênero apresenta versatilidade. A magia do humor está no subjetivo – uma comédia pastelão tem tantas chances de se tornar um clássico quanto uma comédia ácida porque no final das contas, ela atingiu o seu objetivo: impactar o espectador com felicidade. Um Príncipe em Nova York (Coming to America, 1988)conseguiu causar esse impacto, não apenas pelo brilhantismo de Eddie Murphy, mas pela narrativa que possui um enredo único.
Para começar, colocou os atores pretos em destaque, e acima de tudo os enalteceu. Pessoas pretas eram a realeza, eram pessoas a se admirar e, a partir daí, uma porta se abriu, apesar de a indústria relutar em proporcionar destaque para elas. Pensando nisso, a empolgação da sequência era esperada. Não é difícil acreditar que muitas pessoas amaram Um Príncipe em Nova York 2 (Coming 2 America) O filme tem um advento nostálgico, a oportunidade de ver um elenco maravilhoso e a promessa de uma boa comédia. Contudo, a sequência falha em cumprir seu papel básico.
O enredo se mostra cansativo e sem o charme do seu antecessor. Poucas piadas foram criativas, e mais uma vez vemos a saturação de uma continuação que se baseia no sucesso de seu irmão mais velho. A piada (ou poderíamos chamar de reflexão?) sobre Wakanda foi cortada do filme. E por quê? Em contraponto vemos piadas recicladas demais e, dessa vez fora de contexto – não tem o menor sentido o filho “bastardo” do Akeen replicar o “Naaaaah” de Lisa (Shari Headley).
O estilo da comédia é completamente exagerado e nada sutil. O primeiro longa tinha sua parcela de nonsense, mas pelo menos era bem inserido e charmoso. Se o intuito dessa sequência era se apoiar em nostalgia, qual o sentido de acrescentar vários personagens novos para serem deixados de lado? Qual a necessidade de ter mais uma cena na barbearia com os idosos e não destacar a filha mais velha de Akeen? Quando Meeka (KiKi Layne) finalmente teve a oportunidade de brilhar e mostrar porque deveria ser a rainha, a cena não aconteceu. E pior, ela ajudou um irmão sem a menor qualificação para a posição e que mal conhecia a passar no teste para ser coroado em seu lugar.
Ainda, ao invés de explorarem a bela família que Akeen e Lisa constituíram, preferiram focar num filho que ele nem sabia que existia só pela conveniência de trabalhar as tradições ultrapassadas de Zamunda de novo! Sendo assim, depois de Dolemite É O Meu Nome, esperava alguma surpresa positiva do diretor Craig Brewer.
No final das contas, você não entende porque aquele príncipe corajoso e tão empenhado em mudar seu destino passou a ficar acuado em relação a seu pai, especialmente quando ele tem uma esposa destemida e de personalidade forte como a Lisa, que era exatamente o que ele sempre buscou.
Falando em personalidade, Lavelle (Jermaine Fowler) não tinha nenhuma! Tentaram transformar o rapaz em alguém despreocupado e bon vivant, mas é difícil compreender as reais motivações dele. Ele queria alguma coisa substancial antes ou depois de conhecer o pai? Nunca fica claro.
Como foi dito anteriormente, a comédia não tem o compromisso de tecer uma trama elaborada, mas ela precisa de uma personalidade para se sustentar. Pode haver sequências e remakes, podem usar a nostalgia para capturar a atenção e afeto do público, mas que tenha um elemento diferenciado.
O destaque do filme, porém, são os figurinos sensacionais de Ruth E. Carter e o carisma de Wesley Snipes, que se mostra cada vez mais competente na comédia. Seu general Izzi é megalomaníaco e ardiloso e as cenas mais engraçadas tem a presença dele, pode contar com isso!
O restante do elenco está lá para cumprir seu papel de forma padronizada e ser o pano de fundo de uma trama nostálgica. O papel de Leslie Jones como a mãe de Lavelle também não apresenta muita novidade, mas nota-se nos trejeitos da atriz sua enorme satisfação em participar do projeto. Mas venhamos e convenhamos, qualquer coisa encabeçada por Eddie Murphy, é impossível recusar.
Por fim, mesmo que esse não seja um filme inovador e divertido, a experiência é sempre válida. O que realmente importa é que os envolvidos amaram fazer parte. E se te fez rir, melhor ainda!