Crítica de filme

O poder de um ato de fé em “Uma Vida Oculta” | Crítica

Publicado 5 anos atrás

“Uma Vida Oculta” mostra a força da fé de seus personagens como ato de resistência.

ALERTA! Esta crítica contém SPOILERS!

Às vezes, um ato grandioso não muda o rumo de guerras, não cria comoções enormes, muito menos salva vidas. Devido a diversos fatores, este ato pode ser silenciado e ofuscado, mas graças à pesquisas e estudos sobre eventos históricos podemos revê-los e atestar seus devidos valores. É sobre um ato desses que Uma Vida Oculta (A Hidden Life) trata.

Baseado em fatos e situado durante a Segunda Guerra Mundial, o filme conta a história de Franz (August Diehl), um fazendeiro austríaco que é convocado para lutar ao lado do Reich, mas que se recusa a jurar lealdade ao exército de Hitler. Ele é obrigado a deixar a família para trás e viajar até Berlim para se juntar às tropas nazistas, mas logo é condenado e julgado por suas convicções. Durante sua prisão, ouvimos em off a comunicação entre ele e a esposa através de cartas, além das rezas diárias que ele faz.

Uma Vida Oculta é um filme duro. O longa-metragem exprime toda a crueldade e deslealdade das tropas nazistas, mas também mostra a ingenuidade daqueles que caíram na lábia de Hitler. A família de Franz é praticamente execrada do vilarejo onde mora quando ele não aceita a convocação. Tratados como párias, poucos conterrâneos tinham cuidado pelos fazendeiros. A única figura que destoava desta atmosfera era justamente a figura santa do padre local. Com isso, o diretor Terrence Malick atesta a importância da fé para este universo. A força da fé está presente ao longo de toda a narrativa.

Uma Vida Oculta contemplação

Com contra-plongées (câmera abaixo do nível dos olhos, voltada para cima) marcantes, diversas vezes vemos personagens sendo filmados de baixo para cima, com imagens imponentes do céu, como se eles estivessem próximos a uma força gigantesca da natureza ou, no caso, de Deus. Há também momentos extremamente contemplativos, onde o filme simplesmente para e registra estes espaços de natureza exuberante. Para compor esta essência melancólica e dura, a fotografia exibe tons dessaturados e a natureza filmada normalmente está nublada. A locação e a ambientação da família evocam um clima bucólico na narrativa. 

No entanto, toda esta contemplação acaba afetando o ritmo do filme. Com uma decupagem rigorosa, a película evita cortes e estende planos ao seu bel prazer, deixando a narrativa morosa e cansativa. Pode-se argumentar que isso seja bom para a atmosfera densa de sua história, mas era perfeitamente possível mantê-la reduzindo alguns bons minutos de história. Há também o uso de cortes abruptos dentro de um mesmo plano que podem causar certa estranheza no espectador e pouco acrescentam em termos narrativos. 

Uma Vida Oculta colheita

Outro grande ponto da relação do filme com o divino se dá através da associação entre as personagens. Separadas por causa da guerra, elas nunca parecem inteiramente distantes umas das outras, pois o recurso da narrativa em off das cartas trocadas entre Franz e sua esposa Franziska/Fani (Valerie Pachner) estabelecem uma conexão quase transcendental entre o casal, como se eles tivessem total noção do que o outro sente, pensa e quer dizer. Com isso, a cena quando ambos se reencontram acaba tendo um poder absurdo, em especial nos momentos de silêncio.

Os acordes de violino da trilha sonora também imprimem um caráter divinal à história, principalmente quando eles acompanham as personagens do longa-metragem realizando tarefas mundanas, como uma simples colheita de trigo. A repetição de tarefas é como se fosse uma reza, um ritual para estes personagens e, se forçarmos um pouco, podemos até falar que a escolha do trigo como objeto de colheita, nada mais é do que um cuidado destes personagens com Cristo, visto que o trigo é matéria-prima do pão, o corpo Dele. 

Uma Vida Oculta procissão

Apesar de toda a dureza do filme, a mensagem que ele busca passar é das mais positivas possíveis. O longa acredita na nobreza de um ato solitário, mesmo que este ato não tenha reverberado durante a guerra. Além disso, ele acredita na fé como base da força de seus personagens, pois é ela quem segura Franz durante as torturas dos generais nazistas e mantém Franziska ativa no cultivo, provendo para o vilarejo, mesmo após a quase excomungação de sua família. No final, após a execução de Franz, é esta mesma fé que move Franziska a pintar e reerguer a igreja da vila e esperar para reencontrar o marido no outro lado, no paraíso.

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Uma Vida Oculta Poster
País: EUA, Reino Unido, Alemanha
Idioma: Inglês, Alemão e Italiano

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