Crítica | Wish: O Poder dos Desejos

É uma infelicidade que Wish: O Poder dos Desejos vá cair no vale do esquecimento assim como as suas músicas

Houve um período em que seria pecado capital falar mal de qualquer animação da Disney Animation. O estúdio tem uma história gigante e pertinente para a cultura que não é fácil medir ou comparar. Afinal, qual estúdio teve a proeza de ganhar um Oscar mais sete mini peças douradas em homenagem a um clássico instantâneo?

A trajetória da Disney é tão incrível que foi dividida em períodos históricos para categorizar a qualidade e o momento de suas animações. Sendo elas: Era Muda (1923 – 1927), Pré-era de Ouro (1928 – 1933), Era de Ouro  (1937 – 1942), Período da Guerra (1943 – 1949), Era de Prata (1950 – 1967), Era de Bronze ou das Trevas  (1970 – 1988), Renascimento (1989 – 1999), Pós-Renascentista (2000 – 2009), Era do Revival (2010 – 2019) e atualmente Era dos Streamings.

Entre altos e baixos, todos sabem que o sucesso nem sempre chegou fácil para o fundador, Walt Disney, mas o tempo mostrou que entre falhas e acertos houve mais presentes do que desgostos quando se trata de entretenimento. Muitas das obras do estúdio não só fizeram parte da história de milhares crianças do mundo, mas tinham mensagens potentes de como encarar a vida, sempre com uma narrativa muito bem trabalhada e, principalmente, sofisticada na forma de desenvolver um storytelling, por mais que fossem adaptações de livros de contos de fadas. A Disney criou sua própria identidade, tornando suas versões as “definitivas”, às quais do mundo faz referência, sejam em séries de televisão, como Once Upon a Time ou em tentativas de live action de outros estúdios. 

Foi de clássico em clássico que chegamos à comemoração dos 100 anos do estúdio em 2023, e para celebrar esse marco, produziram Wish: O Poder dos Desejos, uma aposta alta de 200 milhões de dólares para fazer uma ode a tudo que o foi construído até agora. Mas será que tanto dinheiro pagou a magia Disney que todos amam? Vou ser brutalmente honesta, não comprou! 

Começando pelo visual, houve uma tentativa honesta de fazer um híbrido entre 2D e 3D como forma de homenagear a trajetória do estúdio. Wish até tentou parecer com Homem Aranha no Aranhaverso, que foi uma potência em renovar o gênero animação. Só que de boas intenções o inferno está cheio, e os cenários estáticos do 2D com personagens de textura mista não deixou uma sensação agradável. A ideia inicial era ter feito a animação em 2D e provavelmente seria um investimento bem melhor para esses milhões. Ouso dizer que se assim fosse feito, Wish poderia ter ficado mais palatável, porque se não entregaram visuais, a narrativa… Bem, vamos a ela.

Asha é uma moça perspicaz que vive no reino de Rosas e sonha em ser aprendiz do Rei Magnífico. Quando não consegue o emprego, faz um desejo tão poderoso que é atendido por uma força cósmica: uma pequena esfera de energia ilimitada chamada Star. Juntas, Asha e Star enfrentam a tirania do Rei Magnífico. Elas farão de tudo para salvar a comunidade e provar que, quando um ser humano corajoso se une à energia das estrelas, muitas coisas maravilhosas podem acontecer.

O Rei Magnífico até poderia entrar para o panteão de figuras emblemáticas e cruéis da história, mas ele não era uma ameaça real para interferir em seus planos. Acho que isso foi o que mais me incomodou na história. Se for observado, todos os antagonistas tinham um obstáculo que os impedia de alcançar seu propósito, geralmente na forma das heroínas de bom coração. Aqui, o rei simplesmente tinha tudo, e para piorar, Asha não era poderosa o bastante para tomar seu império. O feiticeiro simplesmente entrou numa pilha de estresse e cismou que a mocinha destruiria tudo o que ele conquistou, que eram os desejos dos moradores do reino de Rosas. Foi através de um simples favor, que nem era lá essas coisas, que os conflitos começaram. 

A tão esperada homenagem veio em forma de referências jogadas aqui e ali, o que não é nenhuma novidade para quem acompanha o trabalho do estúdio há anos. Quem nunca caçou easter eggs dentro das animações e ficou se sentindo quando pescou um bonequinho da Fera na torre de brinquedos do Sultão em Aladdin, ou viu a pele do Scar dando sopa em Hércules? Mas houve uma interferência na narrativa também, já que Asha tem sete amigos que são bem familiares com os sete anões.

Ainda assim, o filme não mostrou ter força o suficiente para ser uma homenagem à altura do que o estúdio merecia. Às vezes, criar algo com a pressão de carregar 100 anos de história nas costas vira um resultado mediano, pois existem muitas ideias para serem trabalhadas. Seria mais adequado se tivessem investido em uma nova versão de Fantasia. Mickey Mouse com sua varinha mágica tem experiência e reputação de sobra para honrar o legado de seu criador. 

É uma infelicidade que Wish: O Poder dos Desejos vá cair no vale do esquecimento assim como as suas músicas, que eu não lembrava momentos depois de ter escutado. Se a Disney continuar surfando nessa crise criativa, será capaz de enfrentarmos uma segunda Era das Trevas. E os remakes live action podem contribuir no processo. Difícil imaginar que há pouco tempo foi lançado Frozen, este sim, o arrasa quarteirão que esperamos do estúdio. O que pode ser feito é apenas desejar um tempero novo… Quem sabe não surgem estrelas de verdade na forma de roteiristas talentosos para atender as nossas preces?

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Nota do(a) autor(a)

2.5/5
Wish Poster

Wish: O Poder dos Desejos

Wish

2023

95 min

5.9

País: EUA

Direção: Chris Buck, Fawn Veerasunthorn

Elenco: Ariana DeBose, Chris Pine, Alan Tudyk, Victor Garber

Idioma: Inglês

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