Muito foi especulado quando, ao final da última temporada de O Mandaloriano (The Mandalorian, 2019), uma cena pós créditos mostrou o desfecho do icônico caçador de recompensas, Boba Fett (Temuera Morrinson) quando este sentava-se no trono de Jabba The Hutt, prometendo novas aventuras ao tomar para si o império do tão conhecido bandido.
Neste momento é importante ressaltar que o personagem, assim como Din Djarin, ou Mando (Pedro Pascal), o protagonista de O Mandaloriano, cuja notoriedade nasce da fama de Boba Fett, não depende apenas dos filmes da franquia Star Wars. O misterioso caçador de recompensas, responsável pela captura do capitão Han Solo, não possui grande participação nos filmes – aliás, ele recebeu um desfecho tragicômico, sendo lançado para a morte eminente nas profundezas da boca de um Sarlacc, uma terrível criatura dos desertos de Tatooine que mais se assemelha com uma grande bocarra repleta de dentes que devora tudo o que cai em seu interior.
A fama de Fett se atribui em grande parte graças ao imaginário dos fãs, que muito se questionaram acerca daquele personagem misterioso cujo passado era uma incógnita, mas que era sabido que era dotado de grandes habilidades e fama ao longo da galáxia. Este imaginário foi ainda mais estimulado quando o personagem apareceu em uma animação no Especial de Natal de Star Wars de 1978, na ocasião utilizando armas peculiares e até montando uma criatura gigantesca.
É na segunda temporada de O Mandaloriano, no entanto, que descobrimos que Fett ainda estava vivo e agora havia se unido à mais uma personagem famosa não nos filmes da franquia principal, mas sim, nos derivados (é preciso considerar que Star Wars possui vários derivados que também fazem parte do universo canônico criado por George Lucas, sendo estas obras compostas por livros, histórias em quadrinhos, animações e games de sucesso), a assassina Fennec Shand (Ming-Na Wen). Na ocasião, ambos os personagens acabam se tornando aliados, inclusive com o protagonista entregando a Fett sua icônica e famigerada armadura.
Preparadas as devidas introduções, precisamos ir de fato à serie O Livro de Boba Fett, que se inicia logo após os eventos narrados em O Mandaloriano, com um Boba Fett, juntamente com sua fiel companheira Shand, organizando seu novo império sob o legado (e também sob a fortaleza) de Jabba The Hutt. Mas essa tarefa não será tão fácil – seus inimigos se proliferam no planeta e muitos estão conspirando para matá-lo, já que, em um mundo de bandidos, os costumes de Fett, contrários aos de seu antecessor, não agrada nem um pouco a rotina local.
Isso sem mencionar o fato de que existem outros páreas que também desejam o império de Jabba e, como se isso não fosse suficiente para tirar a paz do protagonista, uma nova ameaça surge na forma dos Pike, uma raça gananciosa que pretende comercializar as tão desejadas especiarias presentes na geologia de Tatooine e que para isso, precisarão desafiar Fett.
Agora, cabe ao antigo caçador de recompensas recrutar novos aliados a fim de montar um exército para combater os inimigos que o cercam por todos os lados, tudo isso sem perder seus novos princípios, pois, comandar de forma cruel como Jabba fazia no passado não atrai Fett. Ele deseja comandar sua região de forma benevolente e justa para com seus vassalos, mesmo que isto seja algo inédito para os habitantes locais.
Os primeiros episódios, que desagradaram boa parte do público graças ao seu ritmo mais lento em comparação aos episódios finais, mostra como Boba Fett sobreviveu às entranhas do Sacarlacc e como acabou por ser primeiro capturado e, depois, reconhecido como um irmão pelo povo do areia, os tusken, uma raça que, até então, era considerada hostil e bárbara, mas que se revela como um povo guerreiro, resiliente e, por incrível que pareça, honrado para com aqueles que consideram como iguais.
Dessa forma, munido de novas habilidades adquiridas com a tribo tusken e após salvar uma moribunda Fennec Shand, traída e deixada para morrer no deserto, Boba Fett começa a recrutar antigos inimigos para suas fileiras de aliados e isso inclui um personagem em particular, que muito agradou aos fãs, o próprio Mando, também recrutado para auxiliar Fett em sua batalha.
Neste momento, a série dá uma pausa na narrativa de Fett e volta a acompanhar Mando nas aventuras logo após os eventos da segunda temporada de O Mandaloriano e encontramos agora um Din Djarin quebrado e afastado tanto de Grogu, a criaturinha com quem acabou criando um forte vínculo como de seu próprio credo, uma vez que violou uma das mais importantes regras dos mandalorianos, que nunca podem mostrar seu rosto a ninguém.
Apóstata de um credo arruinado e com saudades de Grogu, Mando acaba por tentar rever seu pequeno companheiro no planeta em que está sendo treinado nos caminhos Jedi por ninguém mesmo que o lendário Luke Skaywalker (brilhantemente reproduzido por efeitos visuais, uma vez que esta versão é a mesma versão jovem dos filmes da primeira trilogia, bem diferente do estado em que se encontra o eterno Luke, Mark Hamill).
De volta a Tatooine, com todas as peças postas no lugar e com ambas as facções com suas forças reunidas, começa o real conflito e a série muda completamente o tom. Se antes os episódios eram de ritmo mais lento, estabelecendo conceitos e personagens, agora reina o caos e as cenas de ação e blasters queimam a tudo e a todos.
Nesse ínterim, o papel de vilão e ameaça maior da vez fica a encargo de mais um personagem famoso entre os fãs dos derivados de Star Wars, o também caçador de recompensas, obviamente inspirado dos filmes clássicos de western, Cad Bane, que, graças à um visual estonteante e uma aura de ameaça impressionante, brilha nos poucos, mas memoráveis momentos em que aparece em cena.
O Livro de Boba Fett possui alguns falhas em seu enredo, inclusive alguns problemas bem sérios, pois o roteiro em alguns momentos faz a opção de tomar caminhos mais fáceis e convenientes para que a estória se desenvolva e isso naturalmente causa estranhamento por parte do público. Mas o objetivo da série é bastante honesto e isso ela cumpre com perfeição. Estamos falando do fan service que, apesar de ser um recurso fácil e que muitos expectadores desprezam, para o fã de Star Wars, que acompanha não apenas os filmes principais, mas também as obras secundárias, é um prato cheio.