Crítica de série

Crítica | Segurança em Jogo – 1ª Temporada

Publicado 5 anos atrás

David Budd é um super herói da era atual

Quando Clark Kent, Peter Parker, Bruce Wayne e outros personagens tão conhecidos assumem suas identidades secretas de super heróis, algo neles se modifica. Sua expressão se endurece, sua postura muda, seu foco se define – afinal, eles precisam salvar o mundo dos vilões.

Em Segurança em Jogo, série original da BBC One, David Budd – personagem que deu a Richard Madden (‘Game of Thrones) o Globo de Ouro de Melhor Ator em Série de Drama -, não nasceu em outro planeta, não foi picado por uma aranha e nem tem dinheiro em abundância, mas a guerra o transformou, de certa forma, em um super herói.

O pano de fundo utilizado pelo roteirista da série, Jed Mercurio, foi o terrorismo – contextualizando a história com o cenário que vivemos atualmente e do qual o cinema já se utilizou bastante, por exemplo, com os filmes As Torres Gêmeas (2006) e A Hora mais Escura (2012)-, mas até isso serve para reforçar o ponto central do enredo: o próprio Budd. Toda a trama da série, sua tensão, sua energia, gira em torno do sargento que, retornando para Londres após ter servido o exército inglês no Afeganistão, e ainda sofrendo de transtorno pós-traumático, é recrutado para servir de guarda-costas da Ministra do Interior da Inglaterra, Julia Montague (Keeley Hawes).

Budd é incansável e, quando se trata de cumprir seu dever, sua missão, que é proteger Julia, nada o impede, nem mesmo suas convicções políticas, contrárias às da Ministra, o que lhe cobre com a aura de honra da qual se imbui todo herói. Quando veste seu terno impecável, ele parece estar vestindo sua armadura. Quando está ao lado de Julia, parece estender um campo de força invisível sobre ela, um escudo que a protege. À noite, quando a deixa em casa, parece monitorar o local com sua visão de raio infravermelho para que nada passe por ele.

E no entanto, somente quando está a sós com Julia é que Budd parece se sentir melhor e fica confortável em voltar a ser humano, deixando sua identidade secreta de lado. Aliás, é somente com ela que ele sorri. Talvez seja o efeito Louis Lane, Mary Jane ou qualquer das amantes de Wayne.

E ainda, se pensarmos melhor, o maior medo de Budd, assim como o de qualquer outro super herói, não é o do vilão, mas sim o de falhar em sua missão, o que é fácil de enxergar quando ele tenta se suicidar após o assassinato da Ministra, ou se recusa a procurar ajuda psiquiátrica até descobrir quem foi o responsável pelo crime.

Há o momento de ascensão do herói, quando Budd é reconhecido pela sua coragem e habilidade ao salvar o dia repetidas vezes – primeiro na tentativa de ataque terrorista a um trem e, depois, contra a própria Ministra -; há o momento de queda, quando todos perdem a fé nele ao acharem que Budd era o assassino de Julia, e finalmente, o de reconstrução, quando sua honra é restabelecida.

Mas não se enganem. Em nenhum momento dos seis episódios Segurança em Jogo se assemelha à Marvel ou à DC. Londres é um cenário concreto e bem real, assim como a retratação do terrorismo e do crime organizado, e as sequências lineares da história são cheias de ação e tensão, nunca se tornando monótono ou sem conteúdo.

Na verdade, sua grande realização é mostrar quem são os verdadeiros heróis no mundo e que eles não são perfeitos. Tem sucesso em mostrar que até mesmo a melhor proteção pode falhar e que, inevitavelmente, quando se trata das vilanias dos terroristas e suas causas, toda e qualquer segurança está em jogo.

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segurança em jogo poster

País: Reino Unido

Idioma: Inglês

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