Crítica de série

Devil May Cry

Publicado 3 semanas atrás

Nota do(a) autor(a): 1

A série animada Devil May Cry, lançada pela Netflix em 2025, é uma daquelas adaptações que, ao invés de celebrar sua fonte original, comete traição contra a mesma. Comandado por Adi Shankar, o mesmo do muito superior Castlevania, o projeto prometia repetir o nível de cuidado e intensidade. O que chega ao público, entretanto, é a profundidade emocional de um reel de Instagram e a sutileza de um tiro na cara.

A primeira (e maior) vítima do roteiro é Dante (Johnny Yong Bosch). Qualquer pessoa que tenha tido o menor contato com a franquia de jogos entende perfeitamente que Dante é a alma de Devil May Cry. Sua personalidade irreverente e carisma quase inigualável são trocados aqui por vazio emocional e monólogos existencialistas. Uma personagem retirada diretamente do Manual dos Roteiristas Pretenciosos.

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Narrativamente, a série se arrasta entre monstros e demônios que chegam e vão, um após o outro. As lutas começam, terminam – e o espectador segue ileso. Chega a ser impressionante como tanto movimento em tela gera completa ausência de qualquer acontecimento relevante. As tentativas de desenvolver personagens esbarram em diálogos didáticos nos quais ninguém conversa, apenas recita.

É verdade que os jogos da franquia Devil May Cry jamais se destacaram por sua profundidade narrativa. A história sempre foi rasa, mais próxima de uma desculpa para usar personagens arquetípicos e diálogos de efeito do que de uma trama envolvente. E tudo bem. O charme da série nunca esteve no enredo, mas na atitude. É justamente aí que reside um dos maiores desafios de qualquer adaptação midiática: quando se transporta uma obra para outro formato, perde-se inevitavelmente aquilo que só fazia sentido dentro do meio original.

No caso de Devil May Cry, as forças da franquia nos jogos estão profundamente ligadas à linguagem lúdica do videogame. A jogabilidade acelerada, elétrica e estilosa, a sensação quase física de controle e domínio sobre Dante em combate, e a adrenalina de executar combos impossíveis… tudo isso é intraduzível. É uma experiência que depende da interatividade entre jogador e avatar.

Ao levar a franquia para o audiovisual, o espectador não mais participa; apenas observa. E aí todas as falhas narrativas deixam de ser um detalhe, e se transformam em falha imperdoável.

E se tudo isso já não fosse problema suficiente, a série ainda tenta se enfeitar em pompa de comentário político. Comentário esse mal encaixado, raso, e francamente deslocado do universo proposto.

Devil May Cry é a forma mais entediante já inventada de caçar demônios.

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Devil May Cry

Devil May Cry

Devil May Cry

16

País: Estados Unidos

Criador(a): Alex Larsen, Adi Shankar

Elenco: Johnny Yong Bosch, Scout Taylor-Compton, Hoon Lee

Idioma: Inglês

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